Monstro-de-gila: veneno de lagarto foi chave para criação do Ozempic

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Um réptil nativos de desertos da América do Norte contribuiu decisivamente para uma descoberta médica que está entre as mais importantes de tempos recentes.

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Trata-se do monstro-de-gila (Heloderma suspectum), um pequeno lagarto peçonhento encontrado no sudoeste dos Estados Unidos e no noroeste do México.

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No veneno do monstro-de-gila, depositado em glândulas na mandíbula inferior, foi descoberta uma enzima que possibilitou aos cientistas o desenvolvimento de fármacos bastante comentados, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro.

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“As toxinas evoluem para desempenhar funções muito específicas, como se defender contra predadores ou incapacitar suas presas”, afirmou à BBC Kini Brandehoff, professor especializado em estudos dedicados a detectar usos alternativos em toxinas.

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O monstro-de-gila é um réptil de movimentos lentos. Por isso, seu veneno evoluiu para ser capaz de imobilizar pequenas presas.

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Além disso, os pesquisadores descobriram que o veneno do monstro-de-gila contém um hormônio que auxilia seu metabolismo a reduzir de tal forma a velocidade que ele pode sobreviver por longo tempo com baixo consumo calórico.

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De acordo com cientistas da Universidade de Queensland, na Austrália, o réptil consegue resistir com apenas seis refeições por ano.

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Nos estudos, os cientistas isolaram em laboratório o hormônio, que batizaram de exendina-4, e perceberam que ele é muito parecido com o GLP-1 - hormônio que o intestino humano produz naturalmente para controlar os níveis de açúcar no sangue após as refeições.

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Porém, o GLP-1 é excretado pelo corpo humano rapidamente. Já a exendina-4 mantém-se no organismo por mais tempo, produzindo efeito de longo prazo no controle da glicose.

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Essa descoberta é a chave para o desenvolvimento de medicamentos que agem como os chamados em bioquímica de “agonistas do receptor de GLP-1”.

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O medicamento Byetta (exenatida), usado no tratamento da diabetes tipo 2 ao fazer cair os níveis de glicose na circulação, foi o primeiro a ser desenvolvido após a descoberta da exendina-4 nos estudos do monstro-de-gila.

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A partir dele, com algumas mudanças pequenas na cadeia de aminoácidos, foram elaboradas substâncias com efeitos maiores nessa redução de glicose. É o caso da semaglutida, o princípio ativo do Ozempic.

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Os estudos com o monstro-de-gila podem impulsionar novos trabalhos com toxinas liberadas por animais, na tentativa de descobrir substâncias que estimulem o desenvolvimento de novos fármacos.

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“Podemos encontrar compostos ainda mais eficazes no veneno de algum outro animal, ou criar versões sintéticas que ataquem doenças por novos ângulos”, ressaltou o professor Kini.

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O monstro-de-gila vive exclusivamente em ambientes secos e é uma das cinco espécies do grupo de lagartos denominado heloderma, caracterizados por sua saliva venenosa.

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Ele é um dos poucos lagartos venenosos, o único do tipo registrado em território norte-americano. Um indivíduo da espécie pode chegar a 56 centímetros de comprimento e pesar quase dois quilos.

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De hábitos exclusivamente noturnos, os monstros-de-gila têm a pele de fundo escuro com listras laranjas ou rosadas, que funcionam como camuflagem. O animal é dotado de uma estrutura externa chamada osteoderma, que funciona como uma espécie de armadura que o defende de predadores, como os falcões.

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Embora seja um animal de pequeno porte, de caminhar vagaroso e aparência inofensiva, o monstro-de-gila pode oferecer riscos aos seres humanos exatamente por seu veneno, embora acidentes não sejam muito comuns.

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Em 2024, um homem de 34 anos, do estado do Colorado (EUA), perdeu a vida após quatro dias de internação por uma mordida de seu monstro-de-gila de estimação.

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Esse tipo de evento é raríssimo. A última morte humana registrada por mordida de monstro-de-gila era de 1930.

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“A grande maioria das mordidas causa inchaço e sangramento local. Acho que este caso destaca que qualquer animal venenoso deve ser respeitado”, declarou na ocasião a Nick Brandehoff. à rede CBS.

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