Bienal do Livro
‘O racismo nasceu da escravidão’, explica Laurentino Gomes
Escritor best-seller com mais de 2,5 milhões de livros vendidos lança nova obra que aborda as origens do sistema escravista
A jornalista Flávia Oliveira mediou o encontro com o escritor Laurentino Gomes. FOTO: Marcelo Antonio Ferreira
As palavras “escravos” e “escravizados” não podem ser consideradas como sinônimas para se referir ao povo africano que, a partir de 1500, foi obrigado a vir para o Brasil nos navios negreiros. A primeira implica que a pessoa já nasceu em condições de viver em cativeiro, refém da vontade de “superiores”; já a segunda palavra expressa que aquela situação é circunstancial e foi imposta ao ser humano. É esse tipo de detalhe histórico que o jornalista Laurentino Gomes destaca na hora de mostra como, até hoje, mais de cinco séculos depois, o brasileiro ainda vive de forma intensa as consequências desse episódio.
Autor da série de livros best-seller “1808-1822-1889”, que narra a chegada da corte portuguesa ao País, o escritor vencedor de seis prêmios Jabuti (premiação máxima da literatura brasileira) aproveita a XIX Bienal Internacional do Livro do Rio para lançar “Escravidão – Do primeiro leilão de cativos em Portugal até a morte de Zumbi dos Palmares”, pela Globo Livros. A obra é o primeiro volume da nova trilogia, em que Gomes investiu seis anos entre trabalhos de pesquisa, apuração e viagem pelo continente africano.
Neste sábado, o autor participou de um encontro mediado pela jornalista Flávia Oliveira para divulgar o projeto, e, de cara, deixou claro que esse fenômeno não foi exclusivo ao Brasil ou, em geral, ao continente americano. O jornalista explica que, de fato, foi um movimento mundial.
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FOTO: Marcelo Antonio Ferreira
“A escravidão faz parte do código genético do ser humano. Onde houve história humana, até hoje, houve escravidão. Mas, até o final do século XVII, a maioria dos escravos eram brancos. O que diferencia a escravidão africana da que ocorreu na América são duas características: primeiramente, a escala industrial e global. Esse era o maior negócio do mundo, até a metade do século XIX. Havia banqueiros, seguradoras, linha de créditos, uma linha de produções e fornecimento”, explica Gomes, ao contextualizar que, entre 1501 e 1867, 12,5 milhões de africanos embarcaram nos navios negreiros.
O continente africano, não diferente do resto do mundo, também tinha a cultura de escravos, mas de forma, diga-se de passagem, menos intensa.
“A escravidão na África vinha de uma linhagem familiar, ancestral. Na América, é uma atividade organizada. E essa foi a primeira vez que a escravidão é associada à cor da pele, como se os africanos negros fossem candidatos naturais ao cativeiro”, diz o escritor.
Durante o encontro, o autor explicou como o nascimento do racismo está associado à escravidão.
“O racismo nasceu da escravidão, mas não a escravidão do racismo. O racismo nasce aí. A ideia de um grupo superior ao outro e, por isso, tinha a prerrogativa de explorá-lo ao limite, não só do trabalho, mas, também, da sexualidade” argumenta o jornalista.
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