Capital Fluminense
Madureira 409 anos: os lugares e encantos da capital do subúrbio carioca
Bairro que é marcado pela forte tradição cultural e pelo comércio popular é um dos mais amados no coração do cariocaComo diz o samba, “Que Madureira é muito mais do que um lugar” todo bom carioca já sabe. O bairro, que pode ser considerado a capital do subúrbio e da Zona Norte da cidade, completa 409 anos nesta terça-feira (24), com todos os seus encantos, malandragem, simpatia e irreverência.
Madureira era a região de uma fazenda, arrendada pelo boiadeiro Lourenço Madureira, no início do século 19. O terreno, onde atualmente está localizado o bairro Madureira, possui uma história única, marcada pela trajetória da classe operária que chegou à cidade em busca de novas oportunidades de trabalho e proporcionou uma união de culturas, ajudando a fortalecer um dos principais símbolos nacionais. O bairro abriga as duas maiores agremiações do Carnaval carioca: a Portela e o Império Serrano !!
A Portela, uma das bandeiras do bairro de Madureira, surgiu em 1923 fruto do sonho de três amigos que, apesar das origens diferentes, encontraram-se no subúrbio carioca de Oswaldo Cruz, próximo à Madureira. São eles: Paulo Benjamim de Oliveira, mais conhecido como Paulo da Portela, Antônio Caetano e Antônio Rufino. O trio, superando todas as adversidades enfrentadas em uma região de periferia carioca ainda em formação, se uniu para construir uma das maiores instituições culturais do país.
Ivanette Ferreira Barcellos, mais conhecida como “Tia Surica”, é considerada Patrimônio Histórico e Cultural do Rio de Janeiro e, atualmente, é o principal símbolo da Portela e do bairro de Madureira. Ela é a responsável por uma das feijoadas mais tradicionais da cidade. Durante uma homenagem no antigo programa Show de Bola, apresentado por Marcos Vinicius, aqui na Super Rádio Tupi, Tia Surica se mostrou feliz pelo carinho recebido por seu trabalho e agradeceu. “Fico muito feliz com o reconhecimento e quero agradecer a Deus por permitir que eu chegasse aos 80 anos. Agradeço o carinho de todos da Portela, de quem gosta de mim e até de quem não gosta”. Falou a Matriarca da Portela, com seu humor peculiar.
Mais a frente, próximo ao Tradicional Shopping dos Peixinhos, bem ao lado da emblemática passarela da estação de Trem “Mercadão de Madureira”, fica a quadra do Império Serrano. Agremiação fundada em março de 1947. A escola ofereceu grandes nomes que fazem parte do imaginário do que é ser Madureira, como Mestre Silas de Oliveira, compositor da Aquarela Brasileira, sem falar dos sambistas Arlindo Cruz, Dona Ivone Lara (primeira mulher a fazer parte de uma ala de compositores de escola de samba), Beto sem Braço e Aluísio Machado.
Neste mês (05), a Câmara Municipal do Rio aprovou o projeto de lei que tomba a Escola de Samba Império Serrano por seu valor histórico e cultural. Mas não só do samba e do carnaval vive esse bairro tão importante para a cultura carioca. Reunindo a nata do samba e dos amantes do carnaval, Madureira não poderia deixar de ser o coração popular de um dos maiores centros comerciais do Rio. Mas não estamos falando do comércio formal dos Shoppings dos Peixinhos, do Madureira Shopping e das várias galerias que cercam a Estrada do Portela, uma das principais vias da região, que vive Madureira. O bairro é também do comércio informal, dos camelôs, dos ambulantes que vivem o corre corre de “gato e rato” com as autoridades locais que tentam ordenar a região. Mas, é inegável que esse lado tão tradicional é que garante as tradicionais lembrancinhas que fazem sucesso nas principais datas do comércio carioca.
E como falar de comércio sem mencionar a principal joia deste lugar: O Mercadão Popular de Madureira. O Centro Popular foi inaugurado em 1924 como uma pequena feira livre que, na época, era um ponto de venda de produtos agropecuários. No ano de 1929, uma obra de ampliação o transformaria no maior centro de distribuição de alimentos do subúrbio carioca. Conhecido por suas lojinhas de produtos religiosos, o Mercadão é passagem obrigatória pelos praticantes de religiões de matriz africanas como Umbanda e Candomblé.
No ano 2000 um incêndio destruiu por completo as dependências do Mercadão, e o que poderia parecer o fim de um dos espaços mais tradicionais do Rio de Janeiro, foi na verdade um recomeço. Em 5 de outubro de 2001, o Mercadão de Madureira reabriu as portas pronto para atender às necessidades do novo milênio que ali se iniciava, aliando instalações modernas, conforto e segurança à tradição.
As mais de 580 lojas e uma enorme variedade de produtos e serviços, com preços altamente competitivos no atacado e no varejo, atraem cerca de 80.000 pessoas por dia, e fazem do Mercadão de Madureira uma referência na cidade, sendo um polo de convergência social, diversidade cultural, onde se misturam todas as camadas da população. É um lugar onde, com certeza, o espírito carioca sobrevive e está presente com suas lutas e alegrias.
Em seus versos, Arlindo Cruz disse na canção ” O Meu Lugar ” que Madureira é uma região onde se tem mil coisas pra gente dizer. Ah! Se tem!! E tem até parque novo, que já virou o point preferido dos cariocas. Construído para os Jogos Olímpicos do Rio 2016, o Parque Madureira, recentemente batizado com o nome de Mestre Monarco, um dos principais baluartes da Portela, foi inaugurado em 2012 e ampliado em 2015.
Situado nos fundos do Madureira Shopping, entre as ruas Manuel Marquês e Conselheiro Galvão e próximo da TransCarioca, o espaço possui uma ampla estrutura de lazer, onde contempla quadras para a prática de esportes populares no subúrbio como Bocha e Skate, ciclovias, bosques e riacho. Além dos quiosques dos famosos ‘podrões’ e barraquinhas de pipoca, o Parque chegou a receber um dos maiores shows da carreira da cantora Anitta.
Em Madureira, a essência do que é ser carioca está desenhada em cada percurso deste nobre bairro do subúrbio. Seja nos encantos do Parque Madureira, nas lojas do Mercadão ou no gingado do Baile Charme do Viaduto Negrão de Lima, nos sambas da Portela e do Império Serrano e nos dribles arriscados no gramado do Estádio de Conselheiro Galvão. Como diria o Samba de 2013 da Portela, mencionado no início desta reportagem, ‘Madureira é muito mais do que um lugar, a capital do samba, que nos faz sonhar’. Salve, Madureira!