Brasil
Jovens preferem ter mais tempo para os estudos
Especialista analisa saída dessas pessoas do mercado de trabalhoA força de trabalho brasileira ainda não voltou aos patamares de antes da pandemia e foram os jovens que saíram em massa do mercado. Em um ano, 1 milhão pararam de trabalhar e procurar emprego. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), havia 18,6 milhões na faixa etária de 14 a 24 anos no mercado de trabalho em 2021. No ano passado, eram 17,6 milhões. Comparando com 2019, a queda foi ainda maior: 1,3 milhão não estão mais disponíveis para o trabalho. A boa notícia é que 55% deles estão estudando. Os salários mais baixos nessa faixa etária desestimulam e o aumento das transferências de renda permite que o jovem se dedique aos estudos.
Segundo a Presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro (ABRH-RJ), Lucia Madeira, o retorno dos jovens aos estudos é um indicador a ser comemorado em todas as esferas da sociedade, mas representa, principalmente, uma oportunidade de melhor qualificação para o mercado de trabalho. “Cerca de 24% da população brasileira é composta por jovens entre 18 e 24 anos, que é a parcela da população com maior taxa de desocupação. A boa notícia da pesquisa da FGV é que muitos estão retornando às escolas na busca de condições de obter melhores empregos. Também deixaram de buscar trabalho para se dedicar aos estudos devido ao aumento da renda familiar pós pandemia e com o acesso aos benefícios de renda mínima”, analisa.
Lucia ressalta que, com o envelhecimento da população, a preparação de jovens para ocupar postos de trabalho se torna ainda mais relevante e é estratégica para o país. “A situação dos jovens é a pior no mercado de trabalho, com maior desemprego e rendimentos mais baixos devido a pouca formação e falta de experiência. Além disso, 27% dos jovens se enquadram como ‘sem-sem’: sem oportunidade de estudar e de trabalhar. Estes jovens, que ficavam cada vez mais distantes dos empregos formais, têm na volta ao estudo uma chance de recuperar o tempo perdido”, afirma.
Lucia conclui dizendo que, com o aumento da complexidade dos cargos disponíveis e queda dos empregos menos qualificados devido à tecnologia, a educação formal é base para melhorar a qualificação, tanto no desenvolvimento de habilidades quanto para a formação profissional. “As empresas já vêm sentido a dificuldade de encontrar profissionais qualificados. Mesmo ainda com altos índices de desemprego, os profissionais de recursos humanos não conseguem preencher muitas vagas, por falta de candidatos qualificados. O tempo investido nos estudos abre caminhos para a inserção no mercado de trabalho e para o alcance a mais oportunidades de carreira e melhores salários. Um movimento que deve ter todo o apoio da sociedade, que facilite o acesso de jovens ao mercado de trabalho, com políticas de apoio ao primeiro emprego, como os programas de aprendizagem que permitam conciliar estudo e trabalho”.
A contratação de aprendizes entre quatorze e vinte e quatro anos, que cursem o ensino fundamental, médio, ou que já tenham concluído o ensino médio, foi alterada pelo decreto Nº 11.479, de 6/4/2023, que passou a priorizar os jovens com vulnerabilidade, deficiência, ou vindos do ensino público. Todo esse movimento é uma sinalização positiva para que o país tenha profissionais mais preparados para os desafios do futuro.