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Covid-19 também é doença vascular, diz pesquisa
Estudo foi realizado com vítimas de idade média de 75 anos e com comorbidadesA covid-19 não é apenas uma doença pulmonar, mas também uma doença vascular, de acordo com pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). O estudo foi realizado com amostras post mortem, autorizadas pelos familiares de pacientes mortos em decorrência do coronavírus. A pesquisa mostrou que as vítimas, com idade média de 75 anos e com comorbidades como hipertensão arterial, diabetes e obesidade, apresentavam lesões na célula que reveste o vaso sanguíneo, com possibilidade de ocasionar trombos e levar a óbito. As informações são da Agência Brasil.
Os pesquisadores indicaram que o uso precoce de anticoagulantes pode ajudar no tratamento da covid-19 e evitar tromboses, após publicação do resultado das primeiras análises na revista médica internacional Arteriosclerose, trombose e biologia vascular (ATVB, do nome em inglês), da Associação Americana do Coração.
A professora da Escola de Medicina da PUCPR e uma das responsáveis pela pesquisa, Lucia de Noronha, disse nesta quarta-feira (30) à Agência Brasil que foram feitas autópsias minimamente invasivas por meio de incisões pequenas no tórax dos pacientes, logo depois da morte, por onde os pesquisadores tiveram acesso aos pulmões. As biópsias são guiadas por imagens que ajudam a distinguir as áreas mais lesadas do pulmão. Já foram feitas biópsias pulmonares em 25 pacientes e mais de 20 biópsias renais. O estudo publicado se refere às primeiras seis análises. Novas pesquisas serão efetuadas para confirmar os achados.
Lucia destacou que, mesmo com seis pacientes, o grau de lesão vascular que a covid-19 causa pôde ser visto. Para comparação, os pesquisadores utilizaram um grupo controle de biópsias post mortem de pacientes de H1N1, que já vinham estudando desde 2009. “Já tinha um parâmetro. Embora os vírus sejam diferentes, são doenças pandêmicas”.
Foram usadas também biópsias de outros dez pacientes que morreram não de doença pulmonar, mas de outras causas, como infarto agudo do miocárdio, por exemplo. “Pegamos um pulmão normal, para comparar”, disse a pesquisadora.
Com o estudo, observou-se que a covid-19 causa uma lesão muito importante no endotélio, que é uma camada fina de células que protege o vaso para evitar tromboses. “Ela tem uma função de barreira, para que o sangue fique dentro do vaso, mas não coagule e continue a fluir. É como se fosse uma camada protetora e lisa. Tem uma função também de lubrificante, para que o sangue não fique viscoso e flua com facilidade”, explicou Lucia.
Ainda segundo a professora, o endotélio, no pulmão, tem uma função de troca de ar. “Porque o endotélio do pulmão, além de ter todas essas funções de proteção, camada lubrificante para que o sangue flua e não aconteça coagulação, ele também faz a troca gasosa. É o endotélio que ajuda que o ar que está no pulmão passe para dentro do sangue”.
Lucia de Noronha explicou ainda que quando ocorre lesão no endotélio, a situação tende a piorar. Em uma pessoa com o pulmão lesado pela covid, o ar já não está passando direito.
Por isso, os pesquisadores acreditam que o uso de anticoagulantes precoce poderia ajudar esses pacientes com todos os cuidados que o anticoagulante precisa e que incluem indicação médica e cuidados de monitoramento. Advertiram também que é necessário ainda se pensar em qual paciente teria mais risco para lesão endotelial e qual se beneficiaria mais com o anticoagulante, porque são exatamente os pacientes com risco que devem ser tratados com mais atenção e mais precocemente.
O risco é intrínseco, ou seja, o paciente já tem. É o caso de pessoas hipertensas, com obesidade mórbida, diabetes e com lesões de rim.