Economia
Corte de gastos: 9 pontos para entender as medidas anunciadas pelo governo
Governo propõe cortes de R$ 70 bilhões e mudanças no Imposto de Renda, salário mínimo e benefícios sociais. Entenda as principais medidas do pacote fiscalO governo federal anunciou um pacote de corte de gastos com o objetivo de ajustar as contas públicas e garantir a continuidade do arcabouço fiscal. As medidas, que visam economizar R$ 70 bilhões até 2026, foram detalhadas na manhã desta quinta-feira (28) pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil).
Com mudanças que afetam o Imposto de Renda (IR), o reajuste do salário mínimo, benefícios sociais e previdência dos militares, o plano busca reduzir despesas obrigatórias e enfrentar brechas que permitem excessos, como os supersalários. Ao mesmo tempo, prevê ajustes para tornar o sistema tributário mais progressivo, como o aumento da alíquota para os mais ricos.
Confira os principais pontos das medidas:
1. Alterações no Imposto de Renda
As mudanças no IR são o carro-chefe da proposta, com promessas de impacto zero no orçamento:
- Isenção ampliada: Quem ganha até R$ 5 mil mensais ficará isento, dobrando o limite atual de R$ 2.259,20. A previsão é que a medida entre em vigor em 2026.
- Tributação de ricos: Contribuintes que recebem mais de R$ 50 mil por mês terão uma alíquota efetiva de 10%, afetando especialmente quem utiliza a “pejotização” para reduzir impostos.
- Limitação de isenções: Pessoas com problemas de saúde terão isenção limitada a rendas de até R$ 20 mil mensais, garantindo que o benefício atenda quem mais precisa.
2. Reajuste limitado do salário mínimo
A política de valorização do salário mínimo será ajustada ao arcabouço fiscal:
- O reajuste continuará baseado na inflação e no crescimento do PIB, mas será limitado a 2,5% acima da inflação.
- Em 2025, o salário mínimo será de R$ 1.515, R$ 6 a menos do que pela regra anterior.
- Nos anos de retração do PIB, o aumento será de pelo menos 0,6% acima da inflação.
3. Abono salarial ajustado pela inflação
O benefício, equivalente a um 14º salário para trabalhadores que ganham até dois salários mínimos, terá mudanças:
- Passará a ser corrigido pela inflação, em vez de acompanhar o reajuste do salário mínimo.
- Com isso, o valor real do abono deve cair nos próximos anos, equivalendo a um salário e meio até 2035.
4. Reforma da previdência dos militares
Mudanças significativas visam reduzir privilégios e ajustar despesas:
- Fim da “morte ficta”: Pensões para familiares de militares expulsos serão substituídas por auxílio-reclusão.
- Contribuição padrão: Até 2026, todos os militares contribuirão 3,5% de sua remuneração para o Fundo de Saúde.
- Idade mínima para reserva: Será estabelecida progressivamente, até atingir 55 anos.
- Economia anual: R$ 2 bilhões.
5. Combate aos supersalários no setor público
O pacote propõe eliminar brechas que permitem rendimentos acima do teto constitucional:
- Uma lei complementar definirá os critérios, aplicáveis a todos os poderes e níveis de governo (federal, estadual e municipal).
6. Revisão de benefícios sociais
Novos critérios para Bolsa Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC) visam combater fraudes:
- Bolsa Família:
- Atualização obrigatória de cadastros com mais de 24 meses.
- Biometria para inscrição e cruzamento de dados com concessionárias de serviços públicos.
- BPC:
- Prova de vida e biometria serão obrigatórias.
- Renda de cônjuges, companheiros e filhos será considerada para a concessão.
7. Controle sobre emendas parlamentares
O crescimento das emendas será limitado:
- Saúde prioritária: 50% das emendas de comissão deverão ser destinadas ao SUS.
- Crescimento abaixo da inflação: A partir de 2026, as emendas só poderão ser corrigidas pela inflação.
8. Fim de novas isenções fiscais em caso de déficit
Se as contas públicas apresentarem déficit primário, a criação ou ampliação de benefícios tributários será proibida.
- Em 2023, as isenções fiscais somaram R$ 519 bilhões.
9. Outras medidas para ajuste fiscal
Além das principais mudanças, o pacote inclui:
- Escalonamento de concursos públicos, com previsão de economia de R$ 1 bilhão em 2025.
- Restrição a subsídios e subvenções, limitando os gastos ao que estiver no orçamento.
- Repasses da Lei Aldir Blanc condicionados à execução de recursos no ano anterior.
- Prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) até 2032, permitindo uso livre de até 30% das receitas.
Com essas medidas, o governo busca controlar o aumento das despesas obrigatórias, preservar a credibilidade fiscal e cumprir metas de equilíbrio nas contas públicas. O pacote será debatido no Congresso e enfrenta desafios tanto técnicos quanto políticos para sua aprovação.