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Pescadores e catadores de caranguejos retiram grande quantidade de resíduos plásticos de ‘ilha de lixo’ na Baía de Guanabara

Volume de fragmentos já supera os de outras edições da Operação LimpaOca

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Pescadores e catadores de caranguejos retiram grande quantidade de resíduos plásticos de ‘ilha de lixo’ na Baía de Guanabara (Foto: Rodrigo Campanário/ Divulgação)
Pescadores e catadores de caranguejos retiram grande quantidade de resíduos plásticos de ‘ilha de lixo’ na Baía de Guanabara (Foto: Rodrigo Campanário/ Divulgação)

Há pouco mais de um mês do início da Operação LimpaOca na ‘ilha de lixo’, localizada na Baía de Guanabara, pescadores e catadores de caranguejos que participam da mobilização se surpreenderam com a quantidade de resíduos plásticos encontrados na região. O número já supera os de outras edições. A ação, realizada pelo Projeto Do Mangue ao Mar – iniciativa da ONG Guardiões do Mar, em convênio com a Transpetro, teve início em setembro e ocorrerá durante 10 meses ininterruptos.

Os profissionais já conseguiram retirar mais de dois mil quilos de resíduos do local. Uma quantidade de resíduos plásticos nunca vista pela equipe toma grande parte da área. “Embora o peso desse material não seja tão grande, o número de unidades supera o das ações anteriores. Dos 48.256 itens já retirados, a maior parte, aproximadamente 97%, é composta por esses fragmentos plásticos”, explica o gerente operacional do Projeto Do Mangue ao Mar, Rodrigo Gaião.

A ‘ilha de lixo’ foi destaque na imprensa nacional em 2019, após denúncia de pescadores à ONG Guardiões do Mar. A ação especial de limpeza realizada no local é uma replicação da força-tarefa realizada pelo Projeto UÇÁ, que em sete edições já retirou 51 toneladas de lixo de 47 hectares do recôncavo da Guanabara. Reeditada em 2014, a Operação é uma ação inédita criada em 2001 pela ONG Guardiões do Mar.

Apesar de ser realizada durante o defeso do caranguejo-uçá, entre outubro e dezembro, garantindo renda extra aos trabalhadores, quando estão proibidos de capturar o crustáceo, a Operação LimpaOca na ‘ilha de lixo’ foi iniciada antes e terminará após esse período, devido à extensão do local a ser limpo. A área coberta pelo lixo possui cerca de 20 hectares, chegando a um metro de profundidade em alguns pontos, e não para de crescer. Plástico, pneus, sofás e outros dejetos formam a ‘ilha’, localizada a aproximadamente 20 quilômetros, em linha reta, dos manguezais da APA de Guapimirim.

A Operação contará, no total, com a participação de 63 pescadores e catadores, de três comunidades do entorno (Saracuruna/Caxias, Suruí e Guia de Pacobaíba/Magé). Eles recebem uma bolsa-auxílio no valor de 800 reais, para realizar as atividades de retirada dos resíduos durante duas manhãs semanais no local. A primeira turma a atuar foi selecionada em parceria com a Associação Livre de Pescadores Artesanais de Guia de Pacobaíba (ALPAGP).

Além da ação na ‘ilha de lixo’, o Projeto realizará mais cinco atividades de limpeza nos próximos três anos, na Baía de Guanabara e Baía de Sepetiba, durante os períodos de defeso do caranguejo-uçá. As ações envolverão, no total, 168 pescadores e caranguejeiros, com previsão de retirada de 35 toneladas de resíduos.

“Com a retirada desse lixo dos manguezais, estamos contribuindo para que o ambiente realize os seus serviços ecossistêmicos de forma mais eficiente fomentando a sociobiodiversidade. E utilizando a mão de obra dos pescadores e catadores de caranguejo, também contribuímos com a socioeconomia”, destaca Rodrigo Gaião.

Manguezais mais limpos

A Operação LimpaOca é a maior limpeza dos manguezais da Baía de Guanabara e ocorre no período de defeso do caranguejo-uçá. O trabalho foi idealizado por um catador de caranguejo, Sr. Adílio Campos, da Ilha de Itaoca, em 2001, e se tornou uma ação continuada da ONG Guardiões do Mar e replicada pelo Projeto UÇÁ, unindo cientistas, pescadores artesanais e catadores de caranguejo, com o apoio da Petrobras.

A ação é tão importante que se tornou institucional, sendo agora replicada pelo Projeto Do Mangue ao Mar – em parceria com a Transpetro. A expertise da instituição mostra que recuperar os manguezais — que estão sendo perdidos em uma taxa até quatro vezes mais alta do que outras florestas — é possível mesmo em áreas densamente povoadas.

Além da renda extra garantida aos trabalhadores durante o período de defeso do caranguejo-uçá pela Operação, outra vantagem, de acordo com o presidente da ONG Guardiões do Mar, Pedro Belga, é que após o defeso, esses profissionais poderão voltar a trabalhar com mais segurança nos manguezais, devido à retirada de materiais como ferro, seringas, vidros e diversos itens cortantes, que podem ocasionar graves acidentes. “Muito além de catar lixo, são disseminados conhecimentos e promovemos boas práticas para esta parcela da sociedade que entende, na prática, que o manguezal, além da importância ambiental, é sua principal fonte de renda”, sem mangue, sem peixe, afirma.

Graças aos esforços, mais de 52 toneladas de lixo (como embalagens plásticas, capacetes, pneus, sofás, geladeiras e brinquedos) foram removidas dos manguezais da Guanabara pela Guardiões do Mar. Um trabalho “de formiguinha”: a quantidade de lixo jogada diariamente chega a quase 100 toneladas, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE). De esgoto, são 18 mil litros por segundo.

“Poucos imaginam, mas é enorme a quantidade de vida que ainda existe aqui. Temos colhereiros-rosas, golfinhos, lontras. Todos dependem de nós e nós deles. Por isso não desistimos”, conta Alaido Malafaia, da Cooperativa Manguezal Fluminense. O presidente da ACCAM – Associação de Catadores de Caranguejo de Magé, Rafael dos Santos, reforça ainda a importância de ações de limpeza para o Turismo de Base Comunitária. “É muito importante quando o manguezal se encontra digno para receber visitantes interessados em apreciar as espécies, como o caranguejo uçá. Essa limpeza realizada pela Guardiões do Mar não tira só o lixo grande, mas também o micro lixo e vai no profundo do manguezal, sendo muito importante para mostrar a situação, o respeito que temos e a grande relevância desse ecossistema”, conta.

A Operação LimpaOca foi considerada referência nacional pela Plataforma EduCares do Ministério do Meio Ambiente, em 2014.