Rio
Menina morta baleada em praça sonhava ser veterinária e chamou pelo pai após tiro
"Ela era tudo para nós. Uma menina cheia de sonhos, uma garota de ouro", disse o paiSandro Alves Silva, pai de Kamila Vitória Aparecida de Souza Silva, de 12 anos, relembrou os momentos de desespero que resultaram na morte da filha, baleada durante um tiroteio na Favela do Guarda, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio, na noite desta quinta-feira (5).
No momento em que foi atingida, Kamila brincava de queimado em uma quadra com amigos. Sandro revela que as últimas palavras da jovem foram chamados ao pai.
“Falei para ela: ‘Minha filha, fica aí abaixada’. Ela sentou na quadra, depois se deitou e me chamou: ‘Pai, pai’. Mas não dava para ir até ela. Era muito tiro, muito tiro. Quando os disparos cessaram, eu corri até ela, e, com ajuda de vizinhos, a colocamos no carro e tentamos socorrê-la. No caminho para o hospital, ela só gemia. A gente dizia: ‘Não dorme, não dorme’, mas era como se ela já não estivesse mais aqui”, desabafou o pai, emocionado.
No Instituto Médico Legal, onde Sandro foi para reconhecer o corpo, ele não escondeu o orgulho da filha. “Ela era uma menina nota 10. Quando tirava nota baixa, dizia: ‘Pai, vou recuperar’, e passava o dia estudando para as provas. Ela queria ser veterinária e adorava cuidar de animais”, lembrou.
Recentemente, Kamila havia entrado para um grupo de vôlei e estava animada com a possibilidade de disputar um campeonato. “Ela me pediu uma joelheira de presente de Natal. Só isso, para jogar vôlei. Mas não deu tempo de eu comprar”, lamentou Sandro, com lágrimas nos olhos.
Kamila era a irmã mais velha e tinha uma relação especial com a caçula, de apenas cinco meses. “Ela era tudo para nós. Uma menina cheia de sonhos, uma garota de ouro”, disse ele.
O futuro roubado pela violência
Sandro, que veio para o Rio de Janeiro em 2009, acreditava que poderia construir um futuro melhor para sua família na comunidade. Porém, os sonhos foram destruídos. “Minha esposa sempre dizia: ‘Vamos embora daqui’. Mas eu acreditava que aqui seria o nosso futuro. Agora, vejo que ela estava certa”, admitiu.
O pai, que é promotor de vendas, falou sobre o impacto da perda e a dificuldade de voltar para casa. “O quarto dela é praticamente o nosso. As coisinhas dela estão lá. É muito difícil entrar e lembrar de tudo. A imagem dela não sai da minha cabeça”, confessou Sandro, visivelmente abalado.
Clamor por justiça
No IML, Sandro também fez um apelo por justiça. “Nada vai trazer minha filha de volta, mas a gente espera que a justiça seja feita. Mesmo assim, entrego tudo nas mãos de Deus”, concluiu.