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Júri popular absolve PM acusado pelo disparo que matou Ágatha Félix

Jurados confirmam que Rodrigo José Matos Soares foi o autor do tiro de fuzil, mas optam pela absolvição. Cabo já respondia ao processo em liberdade

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Menina Ágatha morreu baleada durante confronto no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio
Menina Ágatha morreu baleada durante confronto no Complexo do Alemão, na Zona Norte do Rio. Foto: Reprodução

O Tribunal do Júri decidiu absolver o policial militar Rodrigo José Matos Soares, réu no caso da morte de Ágatha Félix, de apenas 8 anos. O julgamento começou na tarde da última sexta-feira (8) e se estendeu até a madrugada deste sábado (9). Ao final, o júri popular decidiu pela não condenação do cabo. A tragédia ocorreu em 20 de setembro de 2019, quando a menina foi atingida por um tiro de fuzil no Morro da Fazendinha, no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro.

Decisão do júri

Segundo Rodrigo Mondego, advogado e membro da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que acompanhou a família de Ágatha durante os últimos cinco anos, os jurados reconheceram que o policial foi o responsável pelo disparo fatal, mas optaram por absolvê-lo. O policial já respondia ao processo em liberdade. Em suas redes sociais, Mondego expressou profunda decepção com a decisão:

“Estou com um sentimento de tristeza e nojo dessa sociedade que aceita mansamente a morte de crianças”, declarou o advogado. Ele também pediu desculpas à família da menina: “Mas o que mais quero é pedir PERDÃO para a família da Ágatha. Perdão pois como profissional, junto com minhas colegas, mesmo dando o nosso melhor, não conseguimos a condenação do réu. Nosso perdão também como sociedade, tenho vergonha de fazer parte dessa sociedade asquerosa que respalda violência do Estado ao ponto de absolver quem é responsável pela morte de uma criança de 8 anos.”

Caso Ágatha Felix

Ágatha Félix foi baleada nas costas enquanto voltava para casa de kombi com sua mãe. O policial alegou que atirou de fuzil em direção a dois homens que passavam de moto, acreditando se tratar de criminosos. No entanto, o disparo acabou atingindo o veículo em que Ágatha estava. A investigação da Polícia Civil confirmou que o projétil que matou a menina partiu da arma do militar.

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Em dezembro de 2019, o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ) denunciou o PM por homicídio qualificado, após conduzir uma investigação independente que concluiu que o cabo havia realizado o disparo. Assim, Soares passou a responder por homicídio doloso. Apesar de o crime ter ocorrido há cinco anos, o julgamento só teve início em 2022, com o júri popular sendo agendado para abril de 2023. Em setembro de 2023, a defesa de Soares tentou barrar o julgamento no Tribunal do Júri, mas a Justiça determinou que o processo deveria seguir.

Testemunhas

Durante o julgamento, a mãe de Ágatha, Vanessa Francisco Sales, foi uma das principais testemunhas de acusação. Em um depoimento marcado pela emoção, ela descreveu o momento em que a filha foi baleada, enquanto voltavam de um passeio no shopping. Vanessa reforçou que, no momento do disparo, o ambiente na comunidade era de tranquilidade e que nenhum policial prestou socorro imediato à criança. O motorista da kombi, Moisés Atanazio Adriano, também testemunhou e destacou que a viatura policial não ofereceu assistência à menina ferida, sendo ele quem providenciou o socorro.

“A única coisa que eu vi foi o policial atirando na direção deles. Não tinha operação,” relembrou Moisés, ao descrever o momento em que o PM disparou contra os dois homens de moto.

Outras testemunhas ouvidas durante o julgamento incluíram o morador Ismael da Conceição Sacramento e o funcionário de um bar, Igor Querino Veríssimo. No entanto, Luiz Gabriel Bragança da Silva, amigo de Igor e também testemunha, não compareceu ao tribunal.

Defesa e decisão

Por parte da defesa, depuseram os policiais militares Paulo Orlando Picolo da Silva, Anderson Fernandes de Oliveira, Alanderson Ribeiro de Oliveira, Bruno Luiz de Souza Mayrink e Robson de Matos Lima. Todos apresentaram suas versões dos fatos na tentativa de sustentar a tese de defesa do cabo Rodrigo Soares.

A decisão de absolvição, após um julgamento de longa duração e com depoimentos carregados de emoção, gerou repercussões intensas nas redes sociais, especialmente entre ativistas de direitos humanos que acompanham casos de violência policial nas comunidades do Rio de Janeiro.

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