Rio
CPI dos Trens da Alerj alerta para falta de segurança nas estações e nos trens do Rio
"São cinco furtos de cabos/dia, não temos controle de doze estações”, revela o presidente da Supervia, Antônio Carlos SanchesA terceira rodada de oitivas da CPI dos Trens da Alerj, sobre roubos e furtos de cabos nas estações, foi realizada hoje (4). Durante as oitivas, o Diretor-Presidente da Supervia, Antônio Carlos Sanches, afirmou que a concessionária sofre uma média de cinco roubos e furtos de cabos por dia, o que representa 150 ao mês. Segundo ele, somente no último final de semana (2 e 3) houve 11 furtos de cabos de cobre, cujo quilo do produto é vendido a R$ 50, além de equipamentos.
Em 2020, a concessionária teve 40 ocorrências/mês; já em 2021, 90; mas, no mês passado, este dado já passou para 127, apesar das apreensões e prisões da polícia. “Num único dia tivemos 41 viagens canceladas e 19 com atraso médio de 19 minutos. Com isso, deixamos de ofertar quase 100 mil lugares em 24 horas. Houve outro caso em que foram furtados 40 relés e vandalizados 16, um prejuízo de mais de R$ 1,6 milhão à Supervia”, contou Sanches.
Sanches explicou que, quando ocorre um furto de cabo na estação, o maquinista não consegue mais falar com o centro de controle, se comunica por rádio, uma operação de licenciamento. “Houve 21 mil delas em 2021. Com isso, por segurança, a Supervia aumentou os intervalos entre os trens, com menor velocidade da composição”, revelou o Diretor-Presidente da Supervia. Além disso, ele ressaltou que 12 estações não possuem câmeras de segurança e, portanto, estão fora do controle da concessionária. “Apesar dos esforços das polícias Civil e Militar e da Força-Tarefa de segurança criada em 2021, o índice de roubos e furtos de cabos cresceu 300% nos últimos meses. Tanto que a Supervia informou à CPI hoje que, das 104 estações que compõem a malha ferroviária, em 12 delas a concessionária não consegue atuar, pois estão sob controle ostensivo do crime”, pontuou o relator da CPI, Waldeck Carneiro (PSB).
De acordo com Waldeck, a Alerj dará contribuições importantes para minorar o problema. “Solicitamos ao Instituto de Segurança Pública (ISP) que titule o delito ‘furto do patrimônio ferroviário’ para mensurar estes dados pormenorizados. Também vamos ampliar a legislação sobre a matéria, com uma lei que proibirá a venda de fios e cabos incinerados, de modo a coibir este tipo de comércio”, disse o parlamentar, lembrando que uma vistoria realizada em novembro de 2020 pela Alerj com sua presença; da deputada Lucinha (PSD), presidente da CPI dos Trens; e do deputado Dionísio Lins (PP), presidente da Comissão de Transportes da Alerj, já havia verificado a falta de segurança na estação de Senador Camará, Zona Oeste do Rio, onde há venda de drogas no local. “Precisamos de uma resposta imediata das forças de segurança e, hoje na CPI, tivemos uma dica: há necessidade de se trabalhar ostensivamente nestas 12 estações que a Supervia não está conseguindo gerenciar”, disse o deputado.
“Fizemos a Operação ‘Caminho do Cobre’, que investigou do furto até o grande receptador. Isso culminou no cumprimento de mandados de busca e apreensão nas cinco maiores recicladoras do Estado do Rio de janeiro. Apreendemos notas fiscais, documentos, computadores e celulares, mas estamos há seis meses esperando a decisão da justiça para analisar este material”, afirmou o delegado Gustavo de Mello e Castro, titular da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), na CPI. Já o Comandante do Grupamento de Polícia Ferroviária da Polícia Militar (GPFer), major PM Carlos Henrique Cosenza, falou que é importante que os criminosos respondam pelo Artigo 260 do Código Penal (Perigo de Desastre Ferroviário) ao invés do Artigo 155 (roubo), pois, desta forma, continuam presos. “Muitos pensam que são ‘cracudos’ ou moradores de rua que furtam os cabos. Porém, já prendemos um cidadão com 5 Kg de cobre levando este material num aplicativo de transporte para vender num ferro-velho. Na delegacia, ele revelou que estava tentando se capitalizar para pagar o aniversário da filha”, contou Cosenza.
A CPI dos Trens é presidida pela deputada estadual Lucinha (PSD) e tem como relator o deputado estadual Waldeck Carneiro (PSB), o mesmo do impeachment do ex-governador Wilson Witzel no Tribunal Especial Misto (TEM). O objetivo da CPI é investigar denúncias; apurar interrupções nos serviços dos trens suburbanos, os atrasos entre os horários de chegadas e partidas, a superlotação das composições, a duração das viagens, a acessibilidade das estações, a construção de banheiros; analisar as condições de trabalho dos funcionários, dos trens e das estações; cobrar o retorno do ramal Santa Cruz–Central do Brasil; e trazer à tona os danos sofridos pelos usuários relacionados à má prestação do serviço da concessionária de transporte ferroviário no Estado do Rio de Janeiro (Supervia).