Rio
Cortejo em valorização de lideranças femininas negras agita a Região Portuária do Rio
Local conhecido como Pequena África celebra a Tradição das Tias Pretas e a liberdade de gênero e formas de expressão feito por um time de mulheres negras e pessoas transO mês de setembro será badalado na Pequena África do Rio de Janeiro. A Coletiva Mulheres+ de Propósito formada em quase totalidade por moradoras do local promoverá o cortejo “Encantadas: No Caminho das Tias Pretas”. A temporada começou na última sexta-feira (2) e acontecerá em todas as sextas do mês, incluindo apenas um sábado e uma quinta-feira, com concentração sempre às 18h30 para saída do cortejo às 19h.
A ação começa no Cais do Valongo, passa pela Esquina do Pecado com a Rua do Livramento, pausa para um dedo de prosa na Praça da Harmonia com as Tias Pretas, celebra os ancentrais de maneira festiva no Instituto dos Pretos Novos e finaliza com uma roda de samba no MUHCAB (Museu da História e Cultura Afro-Brasileira). Durante o “sambinha de lei” serão servidos aos presentes quitutes comumente oferecidos pelas Tias em dias de celebração e festividades, que aconteciam em seus quintais, e que inspiraram esta iniciativa.
A atração cultural visa a uma construção política acerca do pertencimento a uma cosmologia Africana e homenageia essa tradição em três gerações Tia Carmem do Xibuca (séc. XIX),Tia Dodô da Portela (séc. XX) e Tia Lúcia (séc. XXI). As “tias” são consideradas mulheres mais velhas, lideranças religiosas e culturais, que devido a sua sabedoria se reconhecem e são reconhecidas por deterem um saber-fazer que remonta essa herança africana na cidade. E quem seriam elas no atravessar dos anos? São progenitoras, líderes, rezadeiras, cozinheiras, quitandeiras, mães de Santo. Uma honraria das mais altas e caras na Pequena África.
Mãos e mentes pretas e trans que desenvolvem
A Coletiva sediada na Casa do Propósito é formada por mulheres e pessoas trans de diversas frentes de atuação, como comunicação, produção cultural, história, música, artes visuais e cênicas. Por meio de projetos artísticos e sociais desenvolvem a sua luta contra a LGBTQIA+fobia e as desigualdades de classe, gênero e raça. Sendo um espaço para fortalecer as vozes e projetos de mulheres e pessoas trans da região da Zona Portuária do Rio.
“Esse trabalho nasceu da vontade e da necessidade de “contar a história, que a história não conta”. Estamos na segunda cidade com maior quantidade de pessoas que se declaram negras e pardas do Brasil, mas a história dos povos pretos é constantemente negligenciada. Quando vemos os nomes de ruas, escolas e monumentos, percebemos que a população negra não é representada. E é isso que ocorre com a história das tias pretas na Zona Portuária do Rio de Janeiro. As tias pretas foram e são essenciais para a construção da região por meio da cultura, da culinária e da religião, mas ao estudar a sua tradição, vemos que as fontes sobre as suas histórias são escassas. Por isso, com esse cortejo, queremos contar a história da Zona Portuária de uma perspectiva feminista e antirracista, mostrando que essa região é um grande terreiro, que foi formado por lideranças femininas negras”, afirma O Felipa, coidealizador e coordenador do projeto.
A base de criação da Coletiva sedia-se na Casa do Propósito que é um espaço artístico, cultural, afetivo e político, localizado na Gamboa/Rio de Janeiro. Idealizado em 2018 pela artista Adriana Zattar, a casa atua em diversas frentes do fazer cultural como artes visuais, música, teatro, cinema, dança, terapias holísticas, rodas de conversa, palestras e cursos.
A Região da Pequena África Carioca: Zona Portuária do Rio
A história da vinda dos povos negros para o Brasil, com recorte para a Cidade do Rio, diverge de seu apelido contemporâneo: Maravilhosa. Pelo contrário é manchado pelo sangue e pela dor de muitos daqueles que roubados de suas terras e embarcados nos históricos navios negreiros, encerraram sua jornada de sofrimento neste ponto da Cidade, a Região Portuária. Ou para os íntimos que relembram seus ancestrais, Pequena África. Alcunha concedida pelo sambista Heitor dos Prazeres por se constituir como um território preto, enquanto construção política.
A região continha o maior complexo negreiro do Rio, mas foi também nesse território que se constituiu a manutenção de tradições festivas, religiosas, guerreiras e políticas de referências afro. A região é herdeira das religiões de matizes africanas, sambas, primeiros ranchos carnavalescos, culinária afro-baiana carioca, dos trabalhadores do Porto e da forma intensa de viver a cidade e fazer uso dela.
Serviço
Datas – Sextas: 02, 09, 16, 23, 30 – Sábado: 17 – Quinta: 29.
Horários – Concentração: 18h30 no Cais do Valongo / Cortejo: 19h.
Rota do cortejo: Cais do Valongo/ Esquina do Pecado com a Rua do Livramento/ Praça da Harmonia/ Instituto dos Pretos Novos/ finaliza com uma roda de samba no MUHCAB (Museu da História e Cultura Afro-Brasileira).
Contatos:
@mulheresmaisdeproposito