Justiça
Caso Flordelis: ex-deputada é a segunda ré a ser ouvida
Depoimento da ex-deputada durou 42 minutosVestindo um casaco azul, Flordelis – acusada de ser a mandante do crime – é a segunda ré a ser ouvida. Segundo a defesa, a ex-deputada irá responder apenas perguntas da defesa e do juri.
Flordelis começou o depoimento já sendo questionada sobre quem seria o mandante do crime. “Eu não posso acusar ninguém eu não estava presente no local, eu não vi. Eu não posso afirmar. Meu filho Flávio foi sentenciado, meu filho Lucas foi setenciado. Hoje eu sei o motivo do crime. É muito difícil pra mim falar, mas foram os abusos que aconteceram dentro da minha casa”.
Chorando, Flordelis fala: “Eu não sabia [dos abusos]. Eu amava demais meu marido, ele era tudo pra mim, ele era minha vida. Eu tive uma desconfiança uma única vez no decorrer de um tempo com minha filha Kelly, mas eu mesma não acreditava que ele seria capaz de ter esse tipo de tudo por tudo o que eu fazia por ele, pelo o que eu representava na vida dele. Ele abusou de mim, eu não acreditava que em casa ele pudesse praticar com outras mulheres.”
Questionada sobre os abusos que sofria, Flordelis descreve como foi o início do relacionamento com o pastor Anderson do Carmo.
“No início do nosso casamento era muito bom, eu quero ressaltar aqui que eu me casei com ele sem saber que eu estava casando por causa dos problemas renais que eu tinha muito forte na época. Eu sempre assinava muitos documentos que não lia. Depois de tempo de casada ele começou a me bater, ele me batia, depois ele parou com essa prática de me bater, mas depois se tornou uma coisa muito doída, muito sofrida. O Luan presenciou, alguns filhos entravam na frente. Ele só parou de me bater quando o pastor Abílio Santana, muito amigo dele me tirou e foi conversar com ele a sós, aí nunca mais ele me bateu e foi um tempo de alívio pra mim, mas depois ele voltou a ficar agressivo na área sexual. O meu marido só sentia prazer se me machucasse, ele me machucava, ele só chegava a vias de fato se me machucasse. Eu achava que era por problemas familiares de quando ele era criança e eu me sujeitava, porque eu aprendi com minha mãe, que era submissa. Ela dizia que se o marido fizesse algo, tinha que tentar resolver as coisas. Ele depois deitava normalmente, pedia para eu deitar no peito dele e voltava a ser carinhoso e era como se não tivesse feito nada. Chegou a ponto de me enforcar com o travesseiro e eu desmaiar.”
Questionada do porque Flordelis procurou Misael para contar dos supostos abusos, a ex-deputada diz.
“Ele era meu filho mais próximo e eu não estava sabendo lidar com a situação. Eu fui pedir desculpas pra ele, mas ele disse que eu não podia expor a família, o grupo político que a gente tinha”.
Depois, a ex-deputada relatou o que uma das filhas, identificada como Kelly, teria sofrido.
“Ele era tudo pra mim, meu marido era tudo pra mim, ele era minha vida. Eu jamais imaginei a minha vida sem ele, eu amava ele mais do que tudo, mais do que a mim mesma. Teve uma época que eu amava mais do que Deus. Quando a Kelly veio falar eu não acreditei. Ele me tirou do quarto e disse que queria falar com a Kelly em particular, ele tinha esse costume para me poupar de problemas. Eu sentei na escada do lado da porta do meu quarto e fiquei durante muito tempo do lado de fora sentada e, depois de um tempo, foi relatado isso pra mim de abuso, mas não tinha como acreditar, era impossível acreditar.”
Em seguida, a pastora falou sobre um outro episódio supostamente ocorrido em Brasília com a neta Rayane – também julgada neste sábado (12).
“Eu acordava para ir para a Câmara Federal, ele também levantava, para ver se eu estava vestida de forma adequada para o dia. Eu fiquei no quarto me arrumando, ele saiu e depois de alguns minutos eu sai. O quarto da Rayane ficava do lado e quando eu sai, ele estava saindo do quarto da Rayane eu perguntei o que ele estava fazendo e disse que tinha ido se despedir. Naquele dia a Rayane chorou o dia inteiro, eu voltei da Câmara, Rayane chorando. Eu achei que ela estava brigada com o marido, ela não quis me contar”.
Um dos jurados perguntou se o choro de Flordelis seria real. A ex-deputada fala: “Sim senhora”.
Em meio as respostas para os jurados, Flordelis disse que após a morte de Anderson do Carmo, ajudava a filha Simone dos Santos, que ainda será ouvida, a arrumar as malas para se mudar para uma cidade da Região dos Lagos. Ela disse que ao abrir a gaveta do armário viu que as roupas íntimas da filha eram idênticas aos dela.
“Eu acredito que por conta dessas coisas que estavam acontecendo em casa, desses abusos que fiquei sabendo depois. Depois da morte do meu marido eu ia ajudar a Simone a arrumar as coisas dela para se mudar em Rio das Ostras para morar com o marido dela. Quando eu subi para ajudar a minha filha eu tive um choque muito grande, um susto muito grande. As roupas íntimas dela eram iguais as minhas, eram idênticas. Todas as roupas eram idênticas as minhas, os pijamas, a camisola vermelha, eu fiquei calada, desci, fui pro meu banheiro chorar sozinha”.
Flordelis disse que nunca prestou queixa dos abusos sofridos por Anderson do Carmo “por vergonha, até hoje eu não gosto de falar sobre isso, porque eu tenho vergonha, eu sinto muita vergonha”.
Sobre a psicóloga Paula Barros – suspeita de ter orientado testemunhas a mentirem em depoimento, Flordelis diz que não a conhecia antes da morte do pastor.
“Eu não conhecia a Paula, fui conhecer depois da morte do meu marido. Ela foi lá como pastora, como outros pastores. Eu a recebi como pastora para orar por mim”.
Por fim, Flordelis acrescentou de forma espontânea. “Eu só queria dizer para os jurados que eu não, em momento algum, eu mandei ou pensei em matar meu marido, em momento algum eu tive esse pensamento. Eu estou na cadeia hoje pagando por algo que eu não fiz. Eu amava o meu marido. Está sendo muito difícil a vida pra mim”.