Política
Aumenta pressão por impeachment de Bolsonaro, que responde: ‘Tem gente querendo voltar ao que era’
Monitoramento feito pelas redes sociais dos parlamentares aponta que 110 dos 513 deputados já se manifestaram favoravelmente ao processo contra o presidenteA oposição já prepara a apresentação, ainda nesta semana, de um novo pedido de impeachment do presidente da República, Jair Bolsonaro (Sem Partido), sob o argumento de que ele cometeu “crimes de responsabilidade em série” na condução da pandemia da Covid-19. Assinado pelos partidos Rede Sustentabilidade, PSB, PT, PSOL, PCdoB e PDT, que reúnem juntos 129 deputados, o pedido cita o colapso da saúde em Manaus e diz já ter passado a hora de o Congresso Nacional reagir. Os oposicionistas também cobram a interrupção do recesso parlamentar e a volta imediata ao trabalho para que o processo seja iniciado.
Apesar de não haver qualquer garantia de que o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), vá dar acolhimento ao pedido nos últimos dias do mandato, a percepção entre os políticos é que o clima mudou e que o impeachment poderá começar a tramitar dessa vez. O próprio Maia chegou a declarar, na semana passada, que a demora do início da vacinação contra a Covid-19 no Brasil poderia levar à abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro. Mas a decisão, segundo Maia, caberia ao sucessor dele.
“Eu acho que esse tema de forma inevitável será discutido pela casa no futuro. Temos de focar no principal, que agora é salvar o maior número de vidas, mesmo sabendo que há uma desorganização e uma falta de comando por parte do ministério da Saúde”, declarou Maia na última sexta-feira (15), em coletiva de imprensa no Palácio dos Bandeirantes, ao lado do governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
Lembrando que outros 61 pedidos de impeachment contra o presidente já foram apresentados durante a gestão de Maia. Desses, cinco foram rejeitados por questões protocolares. Os demais 56 continuam na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados.
Vale destacar que um monitoramento feito pelas redes sociais dos parlamentares aponta que 110 dos 513 deputados já se manifestaram favoravelmente ao impeachment de Bolsonaro. De acordo com o site Placar do Impeachment, que faz a atualização dos dados, 54 já se posicionaram contrariamente a uma eventual abertura de processo contra o presidente e 349 não opinaram. Para que um processo dessa natureza seja admitido pela Câmara é necessário o apoio de pelo menos 342 membros da Casa.
O movimento Vem Pra Rua, responsável pelo levantamento, já utilizou a ferramenta anteriormente em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Dessa vez, o grupo se mobiliza contra o atual presidente.
Nomes da política, tanto do espectro da direita quanto da esquerda, também aderiram à campanha pelo impeachment nas redes sociais. A hashtag “impeachment Bolsonaro urgente” esteve entre os assuntos principais do Twitter na sexta e foi replicada por diversas personalidades.
O presidenciável do partido Novo em 2018, João Amoêdo, foi um dos que aderiu à campanha nas redes. Somente na sexta, Amoêdo usou a hashtag mais de 15 vezes. Ainda no campo da direita, ex-bolsonaristas também pediram o impeachment do presidente, como os deputados Alexandre Frota (PSDB-SP) e Joice Hasselmann (PSL-SP).
Na esquerda, o impeachment foi defendido nos últimos dias por nomes como Ciro Gomes (PDT), Marcelo Freixo (PSOL), Guilherme Boulos (PSOL) e Fernando Haddad (PT). O petista, aliás, passou a divulgar o placar do impeachment nas redes e compartilhou o endereço de email dos deputados que ainda não se posicionaram.
Além disso, na sociedade civil, o grupo 342Artes levou uma representação ao procurador-geral da República, Augusto Aras, pedindo que o presidente seja investigado por crime comum por ter boicotado a vacinação no país. A representação conta com mais de 12 mil assinaturas, entre elas a dos advogados Antonio Claudio Mariz de Oliveira, José Carlos Dias e Celso Antônio Bandeira de Mello. A iniciativa é abraçada ainda por artistas como Paula Lavigne e Marieta Severo.
Diante desta pressão, o presidente Jair Bolsonaro afirmou em conversa com apoiadores, nesta terça-feira (19), que não pode dizer que é um “excelente presidente”. O chefe do Executivo disse, contudo, estar “cumprindo uma missão”.
“Não vou dizer que eu sou um excelente presidente. Mas tem muita gente querendo voltar o que eram os anteriores. Já reparou? É impressionante. Estão com uma saudade de uma… [Não concluiu a frase]. Estamos cumprindo uma missão aqui”, falou Bolsonaro.