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Capital Fluminense

Familiares acusam marido de matar jovem na Zona Norte

Segundo os familiares, o homem apresentou divergências em depoimentos à polícia

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Familiares da recepcionista Anna Carolyne Bernardo da Silva, de 27 anos acusam o marido dela de ser o responsável pela sua morte, dois meses atrás. Anna e o marido moravam no Complexo do Alemão, na localidade conhecida como “Casinhas”.

Segundo a mãe da jovem, Cristiane Bernardo, no dia 14 de setembro, a madrasta do homem (que não será identificado) lhe ligou dizendo que a filha estava na UPA de Del Castilho após um acidente doméstico.

Chegando na unidade de saúde, o marido relatou que estavam estendendo roupa no quintal e um objeto não identificado teria caído e atingido a cabeça de Anna. Com o impacto, a jovem teria tido uma convulsão. Desesperado, o homem então teria tentado fazer uma traqueostomia (procedimento em que a traqueia da pessoa é a aberta) para ela continuasse respirando, em seguida a levando à UPA.

Anna deu entrada na unidade “EM ESTADO GRAVÍSSIMO, COM SANGRAMENTO INTENSO EM FORMA DE JATO SECUNDÁRIO A LESÃO POR PROVÁVEL ARMA BRANCA SE ESTENDENDO DA REGIÃO ANTERIOR [frente] ATÉ A LATERAL DO PESCOÇO”. Ela sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu poucas horas depois.

O laudo do Instituto Médico Legal apontou “4 perfurações em região cervical anterior hematoma região frontal, escoriações em região nasal.” Segundo o IML a causa provável da morte era “HEMORRAGIA INTERNA POR LESÃO DA VEIA JUGULAR E ARTÉRIA SUBCLÁVIA”. O laudo o IML também apontou lesões no rosto de Anna.

As versões do acusado

O marido dela prestou depoimento duas vezes à 22ª DP (Penha), onde o caso é investigado, e apresentou divergências entre os dois depoimentos.

Em depoimento do dia da morte de Anna, o marido disse que ela “passou mal e caiu de costas no chão, começou a tremer e espumar pela boca e não conseguia fixar a visão, estando com as pálpebras tremendo. Ficou desesperado e tentou reanima-la, desferindo tapas nas suas costas e peito. […] Gritou por socorro, pegou uma faca na cozinha e resolveu fazer um furo no pescoço, na região da traqueia, para a mesma voltar a respirar. Que, ao fazer o furo com a faca na região do pescoço de ANNA CAROLYNE, saiu bastante sangue e ela voltou a se debater.”

Ainda segundo o marido, ele suspeitava que “algum objeto tenha caído na cabeça, já que apresentava uma marca na testa (algum objeto do prédio de quatro andares, nos fundos do quintal, de onde objetos caem com frequência).”

Já em um segundo depoimento, no dia 10 de outubro, ele disse não possuir conhecimento médico, nem ter presenciado a realização de uma traqueostomia, que tentou executar na esposa. Disse ainda que se lembrava de ter perfurado duas vezes o pescoço de Anna por que da primeira vez não conseguiu fazê-la voltar a respirar, e que não imaginava que ela poderia morrer por conta dos cortes. Disse também que os ferimentos no rosto dela poderiam ter sido causados no momento em ela caiu quando passava mal.

Ainda segundo o inquérito, quando foi confrontado com a informação de que 4 perfurações teriam sido encontradas, e não 2, como ele dizia ter feito, o suspeito disse que não se lembrava de como os eventos ocorreram porque “foi tudo muito desesperador e seu intuito era de que a vítima voltasse a respirar”.

A mãe de Anna diz que a filha nunca havia apresentado quadro de convulsões e que vinha suspeitando que filha estivesse vivendo um relacionamento abusivo. Segundo ela, na véspera da morte da jovem, as duas estavam juntas, e como Anna estava sem celular – segundo ela própria, o aparelho estava quebrado – o marido da jovem se comunicava com ela de maneira insistente, pelo telefone da mãe.

Mais tarde, naquele mesmo dia, ele teria criado um grupo no WhatsApp, adicionando a própria Cristiane, o de Anna e o da avó da jovem (mãe de Cristiane), com o nome “NINGUÉM VAI
ME ATENDER MESMO NÃO?”, e que nas horas seguintes enviou diversas mensagens em tom de ameaça a Anna.

Ainda segundo Cristiane Barreto, sempre que ligava para a filha, as ligações tinham que ser atendidas por viva-voz, com o marido ouvindo e dizendo o que ela podia, ou não, responder. Segundo ela, durante o velório de Anna, a companheira do filho (irmão de Anna) teria notado arranhões no braço do suspeito.

Em depoimento à Polícia Civil, uma amiga de Anna há mais de dez anos relatou que ela não parecia mais ser a pessoa que conhecia, e que a jovem lhe contou que todo o dinheiro que recebia devia ser entregue ao marido, que o “investia em aplicações”, e que lhe devolvia apenas “cerca de R$ 100,00 a R$ 200,00”. Ainda segundo a amiga, o marido de Anna fez publicações em suas redes sociais após seu falecimento e excluindo postagens em que a jovem aparecia, o que indicaria, segundo a amiga, que ele teria acesso ao celular de Anna.

Segundo o advogado da família de Anna, Leonardo Barreto, a prisão temporária do suspeito foi pedida pela polícia logo depois do segundo depoimento, mas o pedido foi negado. No pedido a Polícia Civil cita como argumentos: 1) “não possui qualquer treinamento na área de saúde, tendo agido por ouvir falar que esse era o procedimento adequado“; 2) “[O acusado] Entra em contradição ao descrever o número de perfurações que teria produzido“; 3) “O laudo de necropsia concluiu que a morte da vítima fora causada justamente pelas perfurações […] o que faz com que tenha havido, de fato um homicídio, mesmo que por dolo eventual“; 4) “Aquele que deseja salvar a vítima desfere 4 (quatro) golpes em seu pescoço? Não nos parece plausível“;

O Ministério Público se manifestou favoravelmente à prisão do acusado “considerando o número de lesões, o local em que foram feitas e a existência de lesões no rosto da vítima, bem como relatos de que a vítima mantinha um relacionamento abusivo” com o marido.

Os familiares, junto ao advogado então, procuraram o perito Fernando Esbérard para analisar o inquérito e elaborar um parecer, que foi entregue nesta quinta à polícia.

No laudo, ao qual a reportagem da Super Rádio Tupi teve acesso, o perito aponta que as lesões no rosto de Anna teriam sido produzidas por ações contundentes (com força) e que as seis lesões não podem ter sido causadas por um único trauma. E que os cortes na clavícula não seriam condizentes com uma tentativa de traqueostomia por serem muito profundos e com direção de cima para baixo, enquanto uma traqueostomia apresentaria cortes horizontais.

Por fim, o laudo aponta que Anna morreu por choque hipovolêmico [grande perda de sangue] por lesão da veia jugular interna, causada por arma branca. O perito conclui também que, levando em consideração as contradições do acusado, e com base nos ferimentos no corpo da jovem, foi cometido homicídio e que o marido de Anna tentou ocultar o crime com uma “VERSÃO DE SUPOSTA REALIZAÇÃO DE TRAQUEOSTOMIA”.

O advogado Leonardo Barreto, com as conclusões do laudo, vai entrar com pedido de prisão preventiva do suspeito.