Esportes
Funcionários do Santos relatam casos de racismo e assédio moral dentro do clube
Gerente de controladoria confirmou que disse "aqui é a senzala" ao abrir a porta de uma sala em que estava um advogado negro(Foto: Pedro Ernesto Guerra Azevedo/Santos FC)
Dois funcionários de diferentes áreas do Santos denunciaram ao presidente Orlando Rollo casos de Racismo e Assédio Moral. O de racismo teria sido feito por Roberto Rabelato, gerente de controladoria, a um advogado negro do clube. Já o moral foi sofrido por uma profissional do setor de Recursos humanos, que também é negra, e cometido por Luiz Eduardo Silveira, superintendente administrativo. A notícia foi divulgada nesta quarta-feira (23/12), pela ESPN.
De acordo com o advogado do clube, Roberto Rabelato quase não olhava na cara dele e um dia disse “aqui é senzala” ao abrir a porta de uma sala e vê-lo. O gerente confirmou a acusação.
“Quando eu cheguei aqui, eu pensei que ia ser diferente. Porém, o Rabelato nunca me deu uma oportunidade. Ficou o tempo inteiro segurando as coisas. Tinha que ser do jeito dele, certo? Eu tenho 33 anos de advocacia, acho que alguma coisa eu entendo. Em nenhum momento tivemos um relacionamento. Ele mal olhava na minha cara, mal dava bom dia e dizia para mim que queria distância. Eu sou homem e não falava nada porque acho que é assim que tem que ser levado. Então estou falando na cara dele aqui, nos olhos dele. Que ele diga aqui que não abriu um dia a porta da sala lá e disse “aqui é a senzala”. Quero que ele diga isso, que não falou isso. Eu fiquei tão estupefato que eu não acreditei. Então quero que ele diga na minha cara que ele tem algum problema comigo por eu ser negro porque eu não acredito nisso. Agora, que ele falou isso na minha cara, ele falou. Mas ele não falou assim diretamente. Ele abriu a porta, olhou e falou ‘ah, aqui é a senzala’. Por que ele fez isso? Não sei. Está engasgado aqui”.
Em áudio divulgado pela reportagem, o gerente confirmou o que disse ao advogado. “Procede sim”. Coincidentemente, a notícia foi divulgada no mesmo dia que o Santos promoveu o encontro do garoto Luiz Eduardo, de 11 anos, vítima de racismo em uma partida de futebol, com o elenco profissional do clube.
O caso de assédio moral foi denunciado por uma integrante do departamento de Recursos Humanos do Santos. Ela, que também é negra, acusa o superintendente administrativo e financeiro, Luiz Eduardo Silveira, de humilhá-la e também denuncia o presidente Orlando Rollo de omissão, pois ele não tomou nenhuma atitude após um mês de acusações.
“(Ele) me colocou em uma mesa no fundo da sala, sem computador, cortou meu acesso ao e-mail e não explicou nada. Desde o começo, eu avisei ao presidente. Falei tudo que estava acontecendo desde o começo e as coisas foram piorando. O Luiz me tirou do RH, me humilhou e continuou me ignorando no clube como se eu não existisse (…) Falou que eu não tinha perfil para ser do RH, não tinha perfil para ser gerente de RH e, muito menos, para ganhar o salário que me foi oferecido. E começou a me humilhar. Eu perguntei como ele podia falar uma coisa se nem viu o trabalho. E ele continuou a me humilhar. Falou: “Seu salário vai ser esse, não deixei o presidente dar o salário que ele queria te pagar. E vocês não têm direito à moradia, só quem tem moradia é superintendente”. Ele ficou me humilhando o tempo todo”.
Vale destacar que o mandato de Rollo termina no fim deste ano. O presidente eleito, Andrés Rueda, que assume o clube a partir de 2021, afirmou em nota oficial que soube das acusações pela imprensa, que não será tolerado casos de descriminação e que espera providências enérgicas da atual gestão.
Confira a nota
“O presidente eleito do Santos, Andres Rueda, soube pela imprensa das acusações de racismo feitas entre funcionários do Clube. Aguardamos o posicionamento da atual gestão do Clube e esperamos apurações aprofundadas sobre esses casos de discriminação. Segundo Rueda, “não será tolerado nada nesse sentido e esperamos que providências enérgicas sejas tomadas pela atual gestão””.