Esportes
E-mails revelam que Flamengo sabia dos problemas elétricos no Ninho do Urubu meses antes da tragédia
Arquivos já estão em poder da JustiçaA Justiça tem em mãos documentos que revelam que a diretoria do Flamengo foi alertada da situação de “grande risco” do alojamento da base rubro-negra nove meses antes do trágico incêndio que matou 10 jovens atletas.
No dia 11 de maio de 2018, os responsáveis pela administração do centro de treinamentos receberam um relatório, através de um e-mail, que apontava problemas no sistema elétrico, além da necessidade de um “atendimento emergencial”.
Dessa forma, ficava claro a necessidade de mudanças, já que os consecutivos autos de infração da Prefeitura não eram os únicos problemas para que o local funcionasse como dormitório.
Três dias após o relatório, o Flamengo recebeu a proposta de uma empresa para realizar os reparos. A “CBI Instalações” foi chamada e recebeu a primeira parcela do contrato cujo valor total era de R$ 8.500. Tal contrato também está com a Justiça.
Em outubro, a segunda parcela foi paga, mas o trabalho nunca foi realizado.
Em algumas das fotos anexadas, foram detalhadas as “gambiarras” no quadro elétrico atrás do alojamento da base (contêineres).
No dia 8 de fevereiro de 2019, uma pane elétrica causou o incêndio. Na ocasião, as vidas de Athila Souza Paixão, Arthur Vinícius de Barros, Bernardo Pisetta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique da Silva, Rykelmo de Souza, Samuel Thomas Rosa e Vitor Isaías foram tiradas.
Após a tragédia, a Anexa Energia, contratada pelo clube para produzir um parecer, confirmou que o trabalho de reparo nunca foi realizado e o clube não tomou providências. Além disso, para os técnicos que analisaram o aparelho, “a causa do incêndio está ligada às tensões da instalação elétrica, que podem ter sido provocadas pelas oscilações da rede elétrica e/ou pela má instalação elétrica do CT”.
Na época, o diretor executivo Marcelo Helman era o responsável pela administração do CT. Outros dirigentes afirmaram que não ouviram de Marcelo a necessidade dos reparos emergenciais. Bandeira de Mello, inclusive, presidente do clube naquele momento, afirmou em fevereiro deste ano, durante depoimento na CPI que apura o caso na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), que não tinha ciência de tudo que ocorria no Ninho do Urubu.
Enquanto a gestão anterior e a atual não se entendem sobre o caso, a atual aponta que, através destes documentos agora obtidos pela Justiça fica claro que pelo menos uma pessoa da gestão anterior tinha pleno conhecimento dos problemas.
Marcelo, que era chamado de “prefeito” no local, inclusive, é visto como quem poderia contribuir para a compreensão do cenário do CT, o que não aconteceu.