Sustentabilidade na arte: artista plástica reutiliza portas, janelas e gavetas para criar obras únicas

A arte, sempre ligada ao ser humano, veículo de suas emoções e percepções, têm forte papel mobilizador. Esse ativismo pode estar relacionado a diversas temáticas, sendo uma delas a preocupação ambiental.

Aquele objeto ou resíduo que antes era um problema, em conjunto com a criatividade pode virar uma obra de arte excêntrica e única. É assim que a artista plástica Leca Araujo produz as suas obras. Morando há 11 anos em Genebra, seu trabalho tem como foco o equilíbrio humano.

Sua mais nova série, CHOIX, “escolhas” em português, é composta por portas, janelas e gavetas descartadas.

“Costumo ganhar materiais de amigos. Outras vezes saio às ruas para fazer coletas, já que o lixo de Genebra é bem rico, ou crio a partir de algum outro material descartado. Como meu trabalho fala muito sobre energia, gosto de aproveitar tudo o que o objeto tem, incluindo a pintura original”, conta.

Sim, é possível fazer luxo com materiais considerados “lixo” ou que já serviram um propósito anterior e seriam descartados. A ressignificação desses objetos ajuda o planeta e também proporciona várias oportunidades de expressão.

“Uso diversos tipos de materiais, suporte e tinta, por técnica mista. Monto um mosaico com tecidos, botões e outras coisas que me fazem sentido na hora. A vida é um mosaico, não é mesmo? Ainda incluo mandalas, conforme meu espírito me guiar. E por último, faço bordados com tintas. Por fim, deixo as peças maturarem, na parede para ver se elas pedem mais alguma intervenção, depois assino e envernizo”, destaca a artista plástica.

Todos os anos nos deparamos com um record de instabilidade ambiental. Neste momento os noticiários anunciam incêndios de grande magnitude devido às altas temperaturas do verão europeu. É a natureza mandando seu recado. Talvez por essa razão artistas, galeristas e colecionadores do mundo todo estão conectados com essa temática.

“Todos nós podemos inventar, portanto, todos temos a responsabilidade de criar uma realidade sustentável no planeta em que vivemos », ressalta.

Leca Araujo cresceu em uma família de arquitetos e por essa razão teve acesso muito cedo a diferentes tipos de arte, materiais e mídias. Os seus primeiros trabalhos foram por volta dos 10 anos, os quais traziam carvão sobre papel, pirogravura e pintura à (óleo) sobre eucatex, num estilo mais clássico. Já expôs duas vezes no Palácio das Nações Unidas, em diversas cidades da Europa e participou da mostra Personal Structures, no contexto da Bienal de Veneza, ao lado de artistas contemporâneos renomados como Yoko Ono, Carole Feuerman e Jeff Koons.

“Trago a sustentabilidade em minhas obras porque ela está ligada à mensagem que eu quero passar para o público que as compra e as acompanha nas mostras e bienais: a conscientização sobre a questão em si e um alerta para uma mudança de paradigma.

Tudo é energia e estamos todos conectados reciprocamente e a tudo que nos cerca, inclusive às peças descartadas. Daí a necessidade de vibrarmos na boa frequência. É uma mudança na mente, na forma como observamos as coisas.”, finaliza a artista plástica.