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Rap e trap em alta: a revolução cultural do reality Nova Cena na Netflix

Com um prêmio milionário e jurados de peso, Nova Cena celebra as múltiplas facetas do rap no Brasil, destacando talentos e as raízes culturais do gênero

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Filipe Ret, Tasha & Tracie e Djonga

De acordo com o colunista Thallys Menezes do portal Social 1, em um momento de grande visibilidade para o rap e o trap nacionais, era natural que surgisse uma obra como o reality Nova Cena, adaptação da obra da produção estadunidense Rhythm & Flow, que estreou nessa terça-feira (12), na Netflix.

Ainda que com uma existência de décadas, esses gêneros musicais muitas vezes foram vistos com desdém ou desinteresse por parte do público geral por razões que vão desde preconceitos de raça e classe até o forte lobby de outros estilos.

Agora, talvez mais do que nunca, os estilos ganham o gosto dos jovens e ocupam seus espaços nas ruas, nos fones de ouvidos e até nas produções acadêmicas das universidades. Dado esse boom, o surgimento de um reality em plataforma de streaming de grande alcance que busque novas estrelas do estilo virou questão de tempo.

Com prêmio de R$ 500 mil e uma aparição na série Sintonia para o campeão, possui diversos ingredientes atrativos. E como jurados, nomes de uma geração que ajudou a expandir em números o rap nacionalmente, construindo imensas fan bases: Djonga, Tasha & Tracie e Filipe Ret.

É interessante que a escolha de cada um dos jurados busque destacar, justamente, a diversidade do rap nacional, com a realização de seletivas iniciais na terra natal de cada um deles: São Paulo (Tasha & Tracie), Rio de Janeiro (Ret) e Belo Horizonte (Djonga).

Nessas cidades, são realizadas as audições iniciais, com 18 participantes. E por meio desses diferentes eixos, descobrimos detalhes culturais importantes das cenas locais, como a importância do bairro carioca da Lapa (RJ) e do metrô de São Paulo para a construção do rap nacional.

A leva inicial de candidatos revela bons flows e versos, com destaque para a potência das competidoras mulheres, como Afrodite BXD (RJ) e Maria Preta (SP). Sua segurança e versatilidade é destacada até mesmo pelos jurados, em uma época na qual estrelas femininas do rap vem conquistando espaço após décadas de invisibilização. A presença de nomes da comunidade LGBTQIAP+ como Jump (RJ) e Gabrelu (SP) na competição também surpreende positivamente.

É ainda nessa fase inicial que temos mais um atrativo: como consultores dos jurados nas audições, um desfile de grandes estrelas e nomes consagrados do rap nacional, como Karol Conká, Dexter e FBC.

Desde seus primeiros momentos, o reality se destaca pela ótima produção, com ótimo trabalho de câmera e qualidade nas filmagens. Porém, na primeira fase de audições, o apuro visual se contrasta com uma certa frieza das apresentações, muito provavelmente causada pela falta de plateia, que esquenta batalhas de rap Brasil a fora.

E, apesar da escolha de nomes consagrados para o júri, chama a atenção de forma negativa a ausência de um foco maior em regiões além da Sudeste.

A reclamação por parte da cena acerca da ausência de foco nos artistas locais é algo de outros carnavais, e foi reiterada desde o anúncio de Nova Cena, diante da ausência de rappers de outras regiões. A julgar pelo tamanho de nomes como os nordestinos Don L, Baco Exu do Blues e Matuê, a ausência não tem razão de ser.

À medida que o programa avança, a “frieza” presente na primeira leva de audições se dissipa e o programa se torna irresistível. A segunda fase, composta de batalhas de rap, é a mais empolgante dentre as dinâmicas apresentadas nos quatro primeiros episódios, já disponíveis na plataforma.

Da empolgação a mais dada pelo público às faíscas do duelo, o momento faz lembrar outro bom exemplo de reality, também intimamente ligado à cultura negra, mas de forma totalmente diferente: o Legendary, da plataforma Max, focado na cultura ballroom dos EUA.

Também ajudam a esquentar e manter a empolgação do espectador a dinâmica das outras fases com apresentação diante do público, feats. com artistas como N.I.N.A. e Ebony e composição de singles.

Por meio de suas dinâmicas, Nova Cena torna-se acessível e envolvente até mesmo para pessoas que não tem familiaridade com o rap. Além de navegar pela criatividade dos versos, espectadores já entusiastas do gênero ou não também podem conhecer diferentes lados, alguns mais conhecidos popularmente, outros nem tanto, desse nicho cultural.

Entre a perspectiva trazida pelos competidores, estão as interseções do rap com outros ritmos ligados à cultura negra e periférica, como o funk e o R&B, e também a perspectiva do ritmo como oportunidade de expressão e ascensão social para pessoas na periferia, frequentemente silenciadas e escanteadas a nível estrutural.

‘O rap me deu voz. Ele me deu vida’, destaca uma das competidoras. E Nova Cena tem vida o suficiente até para quem ainda não vive o rap.

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