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Musical inédito, ‘Guasu’ estreia no Sesc Copacabana

Tendo como cenário cinco soldados que tentam sobreviver à Guerra do Paraguai, montagem dirigida por Vilma Melo e escrita e com letras de Bruce de Araújo apresenta trama inédita com conflitos raciais, culturais e um casal gay de época

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Musical inédito, 'Guasu' estreia no Sesc Copacabana (Foto: Ronald Santos Cruz/ Divulgação)
Musical inédito, 'Guasu' estreia no Sesc Copacabana (Foto: Ronald Santos Cruz/ Divulgação)

Tendo um contexto histórico real como cenário da trama e uma ficção desenvolvida a partir das possibilidades daquele momento, o espetáculo musical “Guasu” estreia dia 12 de outubro, às 20h30, no Mezanino do Sesc Copacabana. Idealizada, escrita e com letras das músicas de Bruce de Araújo, a montagem inédita dirigida por Vilma Melo recebe a direção musical de Muato e Fred Demarca, e a coreografia assinada por Rodrigo Nunes. Na Guerra do Paraguai, cinco soldados brasileiros se perdem da tropa e passam a viver suas próprias aventuras ao fugir daquela cruel realidade, no desejo de retornarem, por conta própria, à sua pátria. Os desdobramentos que acontecem neste caminho de volta vão dando o tom do espetáculo.

“Foi a história que me pegou. Em busca de saber mais sobre a Guerra do Paraguai, soube do livro ‘A Retirada da Laguna’ (Visconde de Taunay), esse evento histórico dentro da guerra. Achei impressionante. Num momento da Retirada, soldados se perdem e há deserções. Então me veio uma pergunta: e se cinco soldados brasileiros tivessem se perdido da tropa e tivessem que voltar sozinhos até o Brasil? Quando a gente estuda o tema, normalmente só os generais e Imperadores são mencionados. Senti necessidade de saber quem eram aqueles soldados, o que eles pensavam, sonhavam, temiam. Quais eram as esperanças desses brasileiros?”, pondera Bruce sobre suas inspirações iniciais.

A partir daí Bruce foi desenvolvendo sua narrativa, inserindo nela ingredientes que considerou importantes, como uma inédita igualdade de condições naquele cenário, trazendo a dúvida sobre como se davam os conflitos raciais e culturais num contexto onde as três etnias que formaram o Brasil estavam unidas por um mesmo objetivo; um romance gay entre dois soldados, com a intenção de evidenciar pessoas LGBTQIAPN+ como agentes da história do Brasil; e uma grávida que tenta se manter viva em meio a tantos conflitos brutais, dentre outras situações. Mas como encaixar tramas tão distintas num cenário de guerra tendo como narrativa o teatro musical? “Quando comecei a escrever, a história veio em uma linguagem que não era prosa, mas também não era o poema épico. Foi quando eu percebi que era uma letra de música. A peça faz suas próprias escolhas. Eu só sou um canal que dialoga com ela”, considera o autor.

O título da peça, “Guasu” (lê-se “guaçu”) tem seus motivos. “A peça é um manifesto pacifista não panfletário. O nome Guerra do Paraguai é só aqui no Brasil. Na Argentina e no Uruguai é chamada de Guerra da Tríplice Aliança. E no Paraguai, que ficou em ruínas diante de uma guerra longa e sanguinária, eles chamam de A Grande Guerra. Guasu significa grande. Guerra Guasu, assim eles a chamam. Daí a escolha”, pontua Bruce que, apesar de construir uma ficção, acredita na possibilidade da montagem levar conhecimento histórico à plateia. “Ou pelo menos criar um espaço de curiosidade. A guerra do Paraguai é pouco estudada e aprofundada. Logo, é necessário, dentro da peça, darmos as informações necessárias para que o público possa acompanhar a jornada dessas personagens. A equipe teve aula com um professor de história e uma das coisas mais bonitas que ele disse foi que estávamos criando Memória Nacional”, relembra o autor do texto e das letras das canções.

Ter Fred Demarca e Muato, dois jovens expoentes da música brasileira contemporânea assinando a direção musical de um espetáculo com contexto histórico, proporciona um diálogo com o tempo presente. “É um resgate ao passado, porém estamos falando também do agora. E o público pode esperar um profundo respeito com a história desses soldados e também uma exaltação subjetiva, um registro poético da existência dessas pessoas que lutaram. É brasilidade com suas maravilhas e contradições. E o som é uma mistura de rap, trap, samba, sertão, ladainha, funk, atabaque e violão”, adianta Bruce.

Na montagem, as músicas servem para transcender os estados emocionais das personagens, os sonhos, os anseios, as questões dos soldados; outras trazem mais poesia e brasilidade à história; e também abrem janelas sobre a guerra através de relatos das batalhas mais importantes. A dinâmica da peça é direta, porém lírica, com um elenco jovem e diverso em suas origens, mostrando um Brasil real com suas cores, suas maravilhas e suas contradições. Neste grupo estão Bruce de Araujo, Fred Demarca, Higor Campagnaro, Lucas Sampaio, Luísa Vianna, Matheus Dias, Tom Karabachian e Yumo Apurinã. As coreografias de Rodrigo Nunes apresentam o Brasil raiz dos terreiros de candomblé, catimbó, jurema e jongo, onde o popular e o ancestral servem como fonte para a criação.

A terceira parceria teatral com Vilma Melo é a certeza de uma troca funcional. “É um encontro de muito respeito com uma pessoa por quem eu tenho uma infinita admiração. Eu a escuto, e sinto que ela me escuta. É muita troca, diálogo. Eu aprendo muito”, derrete-se sobre a diretora o autor, que teve seu texto anterior, “Mazorca na Bandalha”, vencedor do Prêmio do Humor. “Tem acontecido eu estar mais autor. E neste projeto ainda sou Diretor de Produção. É muita demanda. Eu saio das letras pros números, das certidões pras cenas, da logística de produção pra lógica dramatúrgica a todo tempo. Mas escrevo desde criança, sou autodidata nesse lugar. Sempre amei a imagem da palavra, as formas das letras, o som delas, o lápis correndo no papel. Meu desejo é ser um homem de teatro, escrevendo, atuando, produzindo e, em breve, dirigindo”, adianta Bruce.

O desejo final do idealizador da montagem é que as pessoas encontrem cumplicidade humana em seus personagens e os vejam como heróis. “Humanos, mas heróis. Essa guerra foi tão sanguinária que aconteceu de não ter mais homens adultos para lutar. Então, mulheres, crianças e idosos se vestiam de soldados e foram massacrados nas batalhas. Uma mulher grávida representa o que restou diante das ruínas paraguaias. Ela é o recomeço de uma nação. Foi interessante porque, tendo a ficção colocada sobre essa realidade histórica, eu tive que viver e visualizar todo o percurso e as lutas que esses homens viveram, as opiniões deles diante dos acontecimentos. É um jogo de xadrez consigo mesmo, e a mesa é a guerra”, finaliza Bruce.

SERVIÇO:

Temporada: 12 de outubro a 05 de novembro de 2023

Dias da Semana: Quinta-feira a domingo

Horário: 20h30

Local: Sesc Copacabana – Mezanino

Endereço: Rua Domingos Ferreira, 160 – Copacabana – Rio de Janeiro