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Eduardo Neiva lança ‘Corações Gentis: 6 histórias de amor’, pela Editora Lacre
Autor, que reside nos EUA, está no Brasil para o lançamento dia 9 de agosto, na Livraria Travessa Leblon
Quando jovem, Eduardo Neiva pensava prioritariamente em duas coisas: letras de rock e livros de literatura e filosofia. Até que se viu em uma encruzilhada, comum da idade: ou tomava rumo na vida ou o pai o expulsava de casa. Foi assim que entrou em contato com o ofício de professor e se apaixonou pelas letras. Quem ganhou foram os alunos de comunicação da PUC, FACHA, UFF e UERJ, que o tiveram como mestre aqui no Brasil, e os estudantes americanos da Universidade do Alabama, em Birmingham, onde é professor emérito de estudos da comunicação no College of Arts and Science. Ao longo da carreira acadêmica, publicou 16 livros sobre comunicação – editados em várias línguas, incluindo mandarim – e a ficção “As sapatilhas de Satã”, de 1986, em que aborda o universo de Freud, entre outros autores, e substâncias como a cocaína. Agora, 37 anos depois, Neiva apresenta sua segunda obra ficcional: Corações Gentis: seis histórias de amor.
O lançamento será dia 9 de agosto, a partir das 19h, na Livraria da Travessa Leblon, pela editora Lacre.
Defendendo a teoria de que “não existe literatura nacional, com fronteiras, toda literatura é mundial”, Neiva apresenta neste novo trabalho seis contos que narram diferentes experiências do amor. O prefácio é assinado pelo sociólogo e professor Muniz Sodré. Foi ele quem encorajou o autor a começar a escrever contos. “Era um exercício meticuloso, todo dia eu escrevia e reescrevia, inicialmente em inglês. Depois, selecionei, junto com o editor de texto Gustavo Barbosa os seis que mais se destacavam”, explica Neiva.
Conforme comenta no posfácio o semioticista Claudio Correia, professor associado da Universidade Federal de Sergipe – UFS, o amor descrito no livro não é oriundo dos afetos e desejos, mas de uma experiência que foi aberta, pela primeira vez, por Dante Alighieri (1265-1321), em sua obra La Vita Nuova. Eduardo Neiva se inspira no autor de A Divina Comédia para buscar o nome da obra.
O livro começa com “Cartas de um peixe de aquário”. Ali, esquecimento e solidão são a espinha dorsal de um relato emoldurado por um amor platônico e por uma obsessão voyeurística. Em “Certa vez, um lobisomem”, segundo conto, entra em cena o retrato das frustrações humanas, especificamente nas relações entre casais, representadas por um casamento congelado pelas regras, sob um céu escuro, sem lua e sem estrelas. Já em “Corpo de delito”, Eduardo Neiva modifica as estruturas da narrativa policial colocando o narrador como um observador dos processos de análise utilizados em uma ocorrência policial.
No conto “Azul de cemitério”, a capacidade descritiva do autor chega ao ápice, criando um cenário de melancolias que rasgam a razão, deixando à mostra um esqueleto de lembranças, sofrimentos e pesar. “Os deuses estão na cozinha” começa com um evento gastronômico sendo arruinado por uma tempestade de dimensões imprevisíveis. O livro encerra com o conto “Cegueira”, que convida os leitores, segundo Correia, a entrar na escuridão das memórias, do esquecimento e da indiferença. A personagem principal atravessa o escuro, como um ser invisível, para chegar ao seu objetivo: o negrume de suas lembranças.
Os textos se intercalam com abordagens ora racionais, ricas em detalhes, ora oníricas e poéticas. Em alguns momentos, o autor passeia por temas como a morte, o vazio, o desamor; em outros, coloca as mulheres à frente da narrativa, dando-lhes um peso mais forte e emocional. Sem se preocupar com isso, Neiva arrisca: “Eu quero a liberdade de entrar em qualquer assunto. A imaginação é libertadora.”