Entretenimento
Centro do Rio terá uma das maiores galerias de arte a céu aberto do Brasil
Beco dos Carmelitas, na Lapa, vai virar o “Beco do Pantera”

A solidariedade que uniu duas pessoas no passado tem transformado vidas e vai transformar muitas mais. Shackal, de 49 anos, e Eriberto Ximenes, de 73 anos, já se conhecem há cerca de 30 anos, numa relação de amizade e parceria que se desenvolveu a partir do melhor, mas também da mais dura realidade presente nas ruas. Histórias silenciadas pela dor, o abandono, a indiferença e a falta de perspectiva.
Nascido na Rocinha, na Zona Sul do Rio, Shackal é um dos precursores movimento do rap e do hip hop brasileiro, ganhou inclusive a alcunha de “O Poeta do Rap” colecionando parcerias com nomes como MV Bill, Marcelo D2, Mano Brown, O Rappa, Gabriel O Pensador, Nação Zumbi, entre outros. No entanto, em meio a tamanho reconhecimento, o artista mergulhou nos vícios em álcool e drogas, indo parar nas ruas. Nesse período, encontrava amparo sempre que ia ao restaurante de Eriberto, o tradicional Os Ximenes, na Lapa. Natural da pequena Groaíras, no Ceará, “Ximeninho”, como é chamado, de família de agricultores, deixou a roça rumo ao Rio de Janeiro na década de 1960, com 16 anos, e hoje administra uma rede com casas espalhadas pelos bairros da Lapa e da Glória.
E foi assim que as trajetórias de Shackal e Eriberto se conectaram. Mais ainda: essa ligação se estendeu a todos os moradores da rua Joaquim Silva, na Lapa. E o rapper venceu a batalha contra as drogas por completo em 2016 para ajudar outras pessoas também em dificuldades.
Em 2020, com a crise gerada pela pandemia de Covid-19, ele criou a Tropa da Solidariedade, projeto social voltado às pessoas em situação de rua e famílias periféricas cariocas com doações de itens básicos de higiene e de alimentação. O movimento, que impacta mais de 20 mil famílias na cidade, chamou a atenção de Eriberto, que passou a integrá-lo.
Beco do Pantera
A ocupação e a revitalização do espaço público estão entre as prioridades da Tropa, que está desenvolvendo um projeto ousado nesse sentido, baseado na experiência bem-sucedida implementada em São Paulo com o Beco do Batman. A ideia é transformar o Beco dos Carmelitas num ponto de interseção entre cultura, arte, educação, empreendedorismo e impacto social. A partir de uma série de ações culturais, passará a ser o “Beco do Pantera”, espaço totalmente revitalizado através do grafite, criando uma galeria de arte a céu aberto. O nome faz referência a outro super-herói, o Pantera Negra, em conexão às raízes africanas do Centro do Rio de Janeiro.
“Reuniremos 16 artistas da pintura e do grafite para revitalizar as paredes do Beco dos Carmelitas. Alguns dos maiores nomes da arte urbana no país, como Jotape Pax, Lídia Viber, Agrade Camíz, Bragga, Airá Ocrespo, Marcelo Ment e Carlos Bobi. Vamos também abrir espaço para artistas locais, com oficinas de graffiti”, revela Shackal.
As ações começaram antes da pandemia, com intervenções estruturais, como o sistema de iluminação, mas foram paralisadas por conta da quarentena. Por meio da Tropa, Shackal voltou seus esforços, então, para o auxílio às pessoas em vulnerabilidade social. Agora, a revitalização do espaço retorna nos dias 18, sábado, e 19 de junho, domingo, das 10h às 23h, com a “Resenha da Tropa”, evento que contará com shows de diversos artistas (como Marcelinho da Lua), feira, debates, batalhas de rimas, slam e a presença da atriz Adriana Birolli, embaixadora do projeto.
O rapper busca apoio para ampliar a intervenção por toda Lapa, bairro boêmio onde o Beco está localizado. A meta é criar a maior galeria de arte a céu aberto do Rio de Janeiro e uma das maiores do Brasil.
“Será mais um passo importante a ser dado, pois estamos em busca de recursos para implementar tudo o que será necessário para a região”, destaca Shackal.
Como participar e doar
Para saber como ajudar o projeto, seja como voluntário ou doador, e a programação completa da Resenha da Tropa acesse o site https://www.tropadasolidariedade.com/ ou as suas redes sociais.
