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Ana Beatriz Nogueira estreia o solo ‘Um Dia a Menos’, baseado em conto de Clarice Lispector, no Teatro das Artes
Sob a direção e adaptação de Leonardo Netto, montagem inicia nova temporada no dia 15 de novembro, sempre às quartas
Com humor e fina ironia, o conto “Um Dia a Menos”, de Clarice Lispector (1920-1977), é transportado para o palco nesta adaptação de Leonardo Netto estrelada por Ana Beatriz Nogueira. O solo de sucesso ganha nova temporada a partir do dia 15 de novembro no Teatro das Artes, sempre às quartas-feiras. “Um Dia a Menos”, que também leva a direção de Leonardo, é um dos últimos trabalhos da célebre escritora e foi escrito exatamente no ano de seu falecimento. A peça conta a história de uma mulher solitária, que, sem se dar conta, construiu muros altos ao seu redor em vez de pontes, e faz rir e também emociona.
“O que mais me atrai neste texto é a humanidade da personagem criada pela autora. Esta mulher que tem como árdua a tarefa de atravessar um dia inteiro. É de uma humanidade, repito, reconhecível por todos nós”, explica Ana Beatriz.
Assim, quase que como por um buraco de fechadura, acompanhamos a história de Margarida que é, às vezes engraçada, às vezes patética. Uma mulher aparentemente normal, como muitas que vemos diariamente no cotidiano, ela vive só desde que sua mãe morreu nesta mesma casa onde nasceu e cresceu.
A funcionária doméstica da vida inteira está de férias, não há mais ninguém por perto, e ela tem diante de si a árdua tarefa de atravessar mais um dia inteiro sozinha, dentro de casa. Então, cumpre seus rituais diários, esquenta sua comida, almoça, torce para que o telefone toque, e vai buscando o que fazer até a hora do jantar, quando finalmente anoitece e pronto, um dia a menos. Até que, esgotada pela repetição infinita, Margarida sofre uma catarse inesperada.
Utilizando uma poltrona, uma mesa de apoio e um telefone, Ana Beatriz Nogueira nos faz, com seu trabalho, enxergar uma casa inteira. Para o diretor, Leonardo Netto, essa escolha bem minimalista foi um caminho assertivo na montagem.
“’Um Dia a Menos’, além de um espetáculo, ouso dizer, complexo na sua simplicidade, é também uma reafirmação da crença no poder de comunicação do teatro que, se resiste há cinco mil anos e sobrevive a todas as crises, é porque pode abrir mão de tudo, menos do humano. Do elemento humano, do questionamento humano, do pensamento humano. Ainda temos muito o que entender sobre nós mesmos. Esperamos estar contribuindo de alguma forma”, torce Leonardo.