Educação
Jovens de comunidades cariocas se juntam para combater os impactos da Covid-19
Iniciativa é do Programa Jovens Construtores, realizado pela ONG CEDAPSSegundo a Fiocruz e dados disponíveis no sistema MonitoraCovid-19, o Rio de Janeiro é a capital brasileira com a maior taxa de letalidade por Covid-19 e está acima da média mundial. Já o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que a população de bairros pobres é a mais atingida pela pandemia, com uma desigualdade ainda maior devido à subnotificação de casos.
Neste contexto, o Programa Jovens Construtores, em parceria com o TikTok e a BrazilFoundation, vai financiar e implementar 52 propostas de jovens residentes em 10 comunidades cariocas para o combate, prevenção e efeitos do vírus em seus territórios.
Durante o mês de dezembro, as ações começarão a ocupar o Complexo do Alemão, Morro dos Prazeres, Mangueira, Borel, Providência, Pavuna, Maré, Del Castilho, Cidade de Deus e 29 de Março. O apoio é uma oportunidade de fortalecer a rede de graduados no Programa Jovens Construtores, para que atuem como lideranças em suas comunidades, reduzindo os impactos da Covid-19 a partir de projetos idealizados por eles. A estimativa é de que pelo menos quatro mil pessoas sejam alcançadas por essas iniciativas, além da divulgação das inserções na rede social TikTok.
Dentre os projetos de ação comunitária está o de Vivian Kristinny, 25 anos, moradora do Morro do Borel. A produtora cultural pretende reunir esforços para que a cultura permaneça viva na favela em tempos de pandemia. “Sem poder fazer shows, realizar slams e saraus (uma prática muito comum nas periferias), muitos artistas perderam o lugar de se apresentar, divulgar e trabalhar”, conta. Para isso, seu projeto focará na transmissão de lives de artistas locais, sorteios e parcerias com empreendedores e empreendedoras da região.
“Minha ação é só a pontinha do iceberg em tornar o Borel um espaço ainda maior de cultura. Tem muita potência aqui dentro, mas quero tornar isso mais visível para fora. Precisamos levar a conscientização de que ainda estamos vivenciando uma pandemia, mas do jeito que a gente faz: com barulho e arte”, diz Vivian.
Outro ponto que agrava a situação do vírus em periferias é a circulação de notícias falsas, como aponta o motorista Rodrigo Henrique, 26 anos, jovem construtor graduado em 2012 e morador do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. “As fake news matam. A desinformação ou a informação distorcida prejudica ainda mais a comunidade em meio à pandemia. Por isso, quero fazer um debate junto aos jovens e lideranças comunitárias, com intuito de esclarecer essas notícias em relação a Covid-19, além de abordar o tema político-racial, a fim de resgatar nossa identidade nas favelas e mostrar a importância de cuidarmos das nossas comunidades”, afirma.
Aliada às medidas de prevenção da Covid, também há preocupação com os estudos durante a pandemia. Com este enfoque, o projeto da estudante Maria Isabely, 18 anos, residente do Morro da Providência, pretende também distribuir panfletos sobre elaboração de currículos e reforço escolar. “Estudar em casa exige força de vontade. Quando tem alguém para nos apoiar é mais estimulante. Assim como eu preciso de forças para continuar a estudar, quero que crianças e jovens também recebam esse apoio. Muitas pessoas dizem que esse ano é considerado como perdido, porém precisamos começar do zero e nunca desistir”, reforça.
Quem também vai ajudar a fortalecer essa rede de apoio é a auxiliar de creches Dayana Barbosa, 23 anos, moradora da Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro. Formada pelo programa em 2016, a jovem quer focar sua ação para o maior grupo de risco da covid-19. “Os idosos precisam de mais atenção na pandemia. Na minha área, muitos vivem em situação precária. Pensando nisso, vou ajudar com produtos de higiene, máscaras e cesta básica. Afinal, hoje estou ajudando e, amanhã, pode ser eu quem precise de ajuda. Solidariedade gera solidariedade”, destaca.