Você está viciado em memes? Entenda como o ‘brainrot’ pode roubar sua atenção e prejudicar sua vida.

Num final de semana recente, durante uma descontraída reunião com amigos, Antônia Batista, uma analista de marketing de 28 anos, se deu conta de como seu vocabulário tinha se moldado aos memes e jargões das redes sociais. Apesar de tentar fazer graça, percebeu que seus amigos não acharam engraçado. Ela passa cerca de sete horas diárias online devido ao trabalho e mais três horas em atividades de lazer, o que pode estar contribuindo para um fenômeno curioso e preocupante: o brainrot.

O termo “brainrot”, ou “podridão cerebral” em bom português, ainda não é registrado em publicações científicas, mas especialistas já conseguem interpretá-lo. Conforme gastamos mais tempo em redes sociais consumindo conteúdo frívolo, nossa capacidade de comunicação e concentração pode ser prejudicada, resultando em isolamento social e ansiedade. Antônia, reconhecendo sua situação, admite que está cada vez mais imersa no dialeto das redes sociais.

O Que é Brainrot?

Brainrot pode ser descrito como uma consequência do uso exacerbado de telas e contato constante com conteúdos de baixa qualidade nas redes sociais. Segundo a terapeuta ocupacional Renata Maria Silva Santos, pesquisadora do Centro de Tecnologia e Medicina Molecular da UFMG, esse fenômeno resulta em dificuldade de fala e perda de habilidades comunicativas. As pessoas ficam tão envolvidas com os estímulos que acabam se comunicando exclusivamente por meio de memes e expressões prontas.

Como Detectar os Sinais de Brainrot

Michael Rich, pediatra do Digital Wellness Lab do Hospital Pediátrico de Boston, afirma que o brainrot é uma forma dos jovens descreverem o efeito de passar muito tempo online. A percepção de Antônia Batista, que afirma usar mais o dialeto das redes no dia a dia, corrobora isso. A servidora pública Andiara Martins, de 34 anos, é um exemplo de quem tenta se afastar das redes para diminuir a ansiedade que esses ambientes digitais causam.

Como se Desintoxicar do Uso de Redes Sociais?

Influenciadores e especialistas sugerem diversas estratégias para aliviar os sintomas de brainrot. Eis alguns passos práticos:

• Limitar o uso do celular: Estabeleça horários específicos para acessar as redes sociais.

• Praticar atividades off-line: Engaje-se em atividades que fortaleçam a mente, como aprender uma nova língua ou praticar esportes.

• Curadoria do feed: Deixe de seguir contas que geram sentimentos negativos ou sensacionalistas.

O psicanalista Leonardo Goldberg ressalta que as redes sociais automatizam nossos processos mentais e inibem a elaboração de conteúdos mais profundos. A estrutura dessas plataformas favorece um consumo rápido e superficial de informações, o que pode aumentar a ansiedade e a angústia.

Quem é Mais Afetado pelo Brainrot?

Adolescentes e jovens adultos da geração Z são os mais vulneráveis aos efeitos negativos do brainrot. Instituições como o Newport Institute nos EUA desenvolvem protocolos de tratamento que incluem limitar o uso do celular e promover atividades mentalmente estimulantes para mitigar os sintomas.

O foco das plataformas digitais em maximizar o tempo de engajamento para fins comerciais também contribui significativamente para o problema. Especialistas, como Issaaf Karhawi, destacam que essas redes são desenhadas para garantir que o usuário passe o maior tempo possível conectado, contribuindo para o aumento de conteúdos superficiais e emocionalmente carregados.

Se você está se sentindo sobrecarregado pelas redes sociais, talvez seja hora de considerar um detox digital. A prática de atividades offline e uma curadoria cuidadosa das contas que você segue podem fazer uma diferença significativa na sua saúde mental. Embora os especialistas ainda estejam explorando as melhores formas de lidar com o brainrot, é claro que a conscientização e a ação preventiva são passos cruciais.

Mantenha-se informado, mas cuide do seu bem-estar. A vida real não cabe em um meme.