Endometriose é tema da campanha Março Amarelo. Você sabe o que é?

Endometriose é tema da campanha Março Amarelo. Você sabe o que é? (Foto: Divulgação/ Agência Brasil)

No mês que é comemorado o Dia Internacional da Mulher, é também da campanha Março Amarelo, campanha mundial de conscientização sobre endometriose.  O objetivo é alertar as mulheres e a população em geral sobre essa doença que afeta 176 milhões de mulheres em todo o mundo e 6,5 milhões no Brasil, aproximadamente 10% das brasileiras em idade fértil. Porém, apesar de bastante prevalente, a doença ainda é pouco conhecida. O tempo de diagnóstico desde o início dos sintomas geralmente leva 8 anos para ser feito.

Daniel Cesar, cirurgião do Departamento de Ginecologia do Instituto Nacional do Câncer e especialista em cirurgia robótica, tira as principais dúvidas sobre a doença.

Daniel Cesar, cirurgião do Departamento de Ginecologia do Instituto Nacional do Câncer e especialista em cirurgia robótica (Foto: Divulgação)

Qual a importância de se falar sobre a doença?

A campanha tem objetivo de alertar as mulheres e a população em geral sobre essa doença que afeta mais de 176 milhões de mulheres em todo o mundo e 6,5 milhões no Brasil, aproximadamente 10% das brasileiras em idade fértil. Porém, apesar de bastante prevalente, a doença ainda é pouco conhecida. O tempo de diagnóstico desde o início dos sintomas geralmente leva 8 anos para ser feito.

A doença pode causar infertilidade e grande impacto na qualidade de vida das mulheres que sofrem de endometriose. Por isso, a campanha busca a conscientização de toda população. Recentemente, o presidente da França, Emmanuel Macron, apresentou a estratégia francesa de controle à endometriose durante discurso oficial e afirmou: “Não é um problema das mulheres. É um problema da sociedade.”

É necessário que todos estejam informados sobre essa doença e tenham acesso ao diagnóstico precoce, porque se diagnosticada tardiamente os dados a saúde da paciente podem ser irreversíveis.

É difícil o diagnóstico da Endometriose?

A endometriose é de difícil diagnóstico e os sintomas podem ser variados e de intensidades diferentes. Às vezes paciente com endometriose avançada não apresenta sintoma ou apenas sintomas leves. O que retarda a busca pelo médico e o diagnóstico. E o contrário também pode acontecer, paciente com muitos sintomas que fazem uma série de exames e nada aparece porque o acometimento é mínimo e não pode ser visto nas imagens. Às vezes a paciente sente dor na coluna ou nas pernas e acredita ser problema dos ossos ou dos músculos e procura o ortopedista.

Quais são os principais sintomas?

Os sintomas mais comuns de endometriose é dor pélvica relacionada ao ciclo menstrual, ou seja, dor que piora durante ou logo depois do período menstrual, dor na relação sexual, dor ao urinar ou evacuar, pode ocorrer também sangue nas fezes ou na urina. Em casos mais graves pode haver obstrução do intestino e obstrução das vias urinárias. Além disso, é muito comum mulheres descobrirem endometriose sem nenhum sintoma durante a investigação porque não conseguem engravidar.

Quais exames detectam a endometriose?

É importante lembrar as mulheres e toda população que a endometriose não é diagnosticada pelo exame preventivo anual e nem pelo ultrassom. A ultrassonografia só é capaz de identificar lesões grandes, as pequenas não conseguem ser visualizadas.

Os exames mais utilizados para o diagnóstico mais preciso da endometriose são ressonância nuclear magnética e a laparoscopia diagnóstica. Alguns centros usam ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal, mas é um método ainda limitado pela disponibilidade reduzida e dificuldade técnica. A ressonância é o método de escolha para diagnosticar e acompanhar as pacientes com endometriose. A laparoscopia diagnóstica, que é um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, fica limitada às pacientes com sintomas típicos de endometriose que não tiveram diagnóstico pela ressonância.

Como proceder em cada estágio da doença?

Tanto nos casos mais leves quanto nos mais graves, o mais importante é ser acompanhado por um especialista e por uma equipe multidisciplinar. A doença ainda é pouco conhecida e os tratamentos são muito específicos, só um médico com experiência saberá indicar as melhores opções. A endometriose é difícil de ser curada, mas quando diagnosticada precocemente as chances de viver uma vida normal e com qualidade aumentam muito.

Quais são os tratamentos hoje em dia? 

O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico. Os tratamentos clínicos são baseados em medicação hormonal e medicamentos para alívio dos sintomas. Os hormônios têm a intenção de bloquear a menstruação e consequentemente impedir que a endometriose aumente. Mas raramente esse tratamento leva a resolução completa da endometriose. O tratamento cirúrgico deve ser realizado por via minimamente invasiva, laparoscopia ou robótica, e tem a intenção de remover os focos de endometriose preservando a fertilidade e a função dos órgãos.

Existe alguma fase onde a prevalência da doença é maior?

Geralmente as mulheres iniciam os sintomas durante os primeiros anos da idade fértil, ou seja, um pouco depois que começam a menstruação. Porém, como o diagnóstico geralmente é tardio, a média de idade da descoberta de endometriose é aos 32 anos. A endometriose também pode ocorrer após os 40 anos e também após a menopausa, principalmente nas mulheres que fazem uso de terapia hormonal.

Algumas mulheres relatam dificuldade para engravidar devido à doença. Existe algum tratamento específico nesses casos? 

Muitas mulheres descobrem a endometriose porque não conseguem engravidar. Existe tratamento tanto com medicamento quanto cirurgia. Temos também a possibilidade de técnicas de fertilização in vitro. Porém, muitas mulheres com diagnóstico de endometriose conseguem engravidar sem tratamento algum e o mais interessante é que a gestação ajuda no controle dos focos de endometriose e faz a doença regredir durante o estado gestacional.