Ciência e Saúde
Com a pandemia, cai procura por tratamento de câncer
Impactos causados por diagnósticos tardios e lentidão no atendimento podem ser irreversíveisA pandemia impactou a saúde da população e seus efeitos ainda serão sentidos por muito tempo. Não somente por quem perdeu algum ente querido ou teve alguma sequela da covid-19, mas todo o sistema foi altamente impactado, especialmente falando sobre o câncer. Muito do sucesso do tratamento contra a doença, que evoluiu muito nos últimos anos, depende principalmente de um diagnóstico precoce.
Segundo a pesquisadora em saúde e membro do comitê de combate ao coronavírus da UFRJ, Chrystina Barros, a pandemia afetou diretamente no tratamento do câncer. “No último ano, principalmente no primeiro semestre de 2020, a atenção primária à saúde, o acesso de pessoas a essa investigação diagnóstica ficou muito comprometida, em parte pelo medo das pessoas até em buscarem o sistema de saúde e se contaminarem pelo novo coronavírus”, afirmou.
Por outro lado, ela afirma que além desse medo da contaminação, há todo o desvio e concentração de assistência para recuperação dessas outras pessoas nos hospitais e em leitos de CTI. Os recursos investidos para cuidar da saúde saíram da prevenção e do diagnóstico precoce para cura, num momento de emergência sem precedentes em saúde pública. “Nosso país já tem um histórico de deixar a desejar na atenção às pessoas que procuram e precisam não só do diagnóstico, mas ter todas as ferramentas que já existem a disposição do tratamento do câncer”, pontua Chrystina.
Na véspera do Outubro Rosa, é importante ressaltar que existe uma lei que obriga o sistema público de saúde a ]dar acesso ao tratamento do câncer de mama 60 dias após o seu diagnóstico. Porém, até 2019, havia uma média de 113 dias, praticamente 4 meses, para que a mulher conseguisse o diagnóstico depois de um autoexame ou de uma mamografia. É necessário conscientizar e reinvestir de uma maneira séria na prevenção do câncer, mas para isso, é necessário acesso ao sistema de saúde.