Lombadas e valetas: O calcanhar de Aquiles dos carros elétricos

Os veículos elétricos estão se tornando cada vez mais comuns no cenário automotivo mundial, oferecendo uma opção ecológica e eficiente para os consumidores. No entanto, no Brasil, os desafios são únicos, especialmente devido à infraestrutura viária. A baixa altura em relação ao solo desses veículos, projetada para melhorar a aerodinâmica e expandir a autonomia, aumenta a suscetibilidade a danos ao transitar por vias em más condições.

Uma característica determinante dos veículos elétricos é a presença dos módulos de bateria, geralmente instalados na parte inferior do carro. Essa posição contribui para um centro de gravidade mais baixo, beneficiando o desempenho, mas, em contrapartida, deixa o veículo mais vulnerável a impactos em obstáculos como lombadas altas e valetas profundas, comuns nas vias brasileiras.

Quais são os impactos financeiros dos danos aos veículos elétricos?

Um vídeo publicado pelo influenciador Paulo Korn recentemente destacou um problema crítico: o elevado custo de reparo da parte inferior de um veículo elétrico pode, em alguns casos, ultrapassar o valor do próprio carro. Um exemplo disso é o orçamento de conserto de R$ 908.621 para um BMW IX Xdrive50 Sport, modelo cujo preço de mercado é R$ 889.950.

Esse alto custo de manutenção não é um problema restrito ao Brasil. Internacionalmente, locadoras têm reconsiderado sua eletrificação planejada, parcialmente devido ao custo elevado pós-acidente desses veículos. O professor Cleber Willian Gomes, especialista em Engenharia Mecânica da FEI, reforça que a infraestrutura viária no Brasil, marcada por buracos e desníveis, requer veículos com uma altura maior entre o solo e o carro para evitar danos.

Como a suspensão dos veículos elétricos é afetada pelas condições das estradas?

A suspensão dos veículos elétricos é desenvolvida para suportar o peso das baterias de forma eficaz, contudo, as condições irregulares das estradas brasileiras impõem um desafio adicional. A travessia sobre lombadas ou valetas pode causar estresse extra na suspensão, resultando em danos ao longo do tempo. Esses impactos contínuos podem comprometer a integridade estrutural do veículo, significando uma necessidade frequente de reparos que geram custos altos.

A importância do “ground clearance” no desenvolvimento de veículos

No design de veículos, o termo “ground clearance” refere-se à distância livre entre o solo e a parte inferior de um veículo e é crucial para determinar sua capacidade de lidar com obstáculos sem danos. Isso inclui o ângulo de entrada e de saída dos para-choques, aspectos essenciais para garantir que veículos operem com eficácia em condições variáveis. Para o Brasil, onde esses desafios são exacerbados pelas condições das vias, um reajuste nos parâmetros típicos de “ground clearance” é fundamental.

O desenvolvimento de veículos para o mercado brasileiro precisa considerar essas particularidades locais para evitar prejuízos aos consumidores e incentivar a adoção de veículos elétricos. Isso exige uma colaboração entre fabricantes, engenheiros e legisladores para melhorar tanto os veículos quanto a infraestrutura viária.

Em resumo, enquanto os veículos elétricos oferecem muitas vantagens, é crucial adaptar o design e a infraestrutura para mitigar riscos e custos associados aos desafios das estradas locais no Brasil. A viabilidade e sustentabilidade dos veículos elétricos no mercado dependem de soluções inovadoras e práticas eficazes que garantam sua longevidade e eficácia em qualquer ambiente rodoviário.