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Sargento da PM que matou vendedor de balas em Niterói é preso e irá responder por homicídio doloso
Segundo nota da corporação, Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior teria disparado contra o jovem por legítima defesa, após reagir a uma tentativa de roubo. Familiares da vítima contestam essa versãoO sargento da Polícia Militar (PM) Carlos Arnaud Baldez Silva Júnior teve a prisão decretada, na noite desta segunda-feira (14), após prestar depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo, Itaboraí e Maricá (DNISH). Ele vai responder por homicídio doloso, quando há a intenção de matar, com motivo fútil e agravante.
O policial foi o responsável por atirar e matar o vendedor de balas Hiago Macedo de Oliveira Bastos, de 21 anos, em frente à estação das Barcas, no Centro de Niterói, no início da tarde desta segunda. O agente, que estava à paisana e de folga, teria disparado após uma discussão com jovem, iniciada depois que o trabalhador ofereceu seus produtos.
“Ele [Hiago] foi abordar um rapaz para vender bala. O cliente virou para ele e o acusou de ser mais um vendedor de bala afim de roubar o celular. Nisso, os dois discutiram e um policial que estava na fila, à paisana, tomou as dores e interveio. O policial foi levantar a voz para meu primo, que levantou a voz também. Depois, o policial simplesmente não falou mais nada, tirou uma arma da cintura, deu um tiro no peito e saiu normalmente. Uma viatura que estava parada perto não fez absolutamente nada”, relatou Jonathan César Souza da Silva, primo da vítima, em conversa com jornalistas ainda no local da morte.
Já a Polícia Militar emitiu um nota oficial afirmando que, com base nas informações preliminares, o sargento teria reagido a uma tentativa de roubo. “O militar tentou intervir na ação e um dos envolvidos teria investido contra sua integridade, sendo atingido por disparo de arma de fogo. O ferido não resistiu”, dizia o texto do comunicado. Ainda segundo a corporação, a 4ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) foi acionada e está acompanhando o caso.
Morte de vendedor causa revolta
Após os disparos que vitimaram Hiago, uma grande confusão teve início na Praça Araribóia, onde fica localizado o terminal das barcas. Pessoas que estavam no local tentaram fechar o trânsito da Avenida Visconde do Rio Branco e chegaram a incendiar um colchão na pista, mas o fogo foi apagado por policiais.
Outros vendedores de balas também se dirigiram ao terminal para realizar uma manifestação. Alguns comerciantes da região chegaram a fechar as lojas por medida de segurança.
Em um dos embates entre guardas municipais e manifestantes, um homem que estava com uma criança de um ano e três meses nos braços discutiu com um dos agentes, acompanhado de outras pessoas. Para tentar dispersar a multidão, um dos guardas utilizou gás de pimenta e acabou atingindo o rosto da criança que precisou ser atendida por uma viatura do Corpo de Bombeiros.
Ao todo, quatro pessoas foram detidas por agentes do 12° Batalhão de Polícia Militar (BPM). Em um primeiro momento, todas elas foram conduzidas para a 76° Delegacia de Polícia (DP) do Centro de Niterói e, posteriormente, duas foram encaminhadas para DNISH.
‘Policial atirou no peito para matar’, afirma mulher de vendedor morto
Ao longo da tarde, enquanto o sargento prestava depoimento, familiares da vítima foram até a delegacia de homicídios. A companheira de Hiago, Thaís Conceção de Oliveira Santos, foi uma das que estiverem presentes e, mesmo muito abalada, falou rapidamente com a imprensa.
“Estávamos planejando a festa do nosso bebê. Já tínhamos pago todo salão, todas as coisas. Ele só desceu para trabalhar como faz diariamente. Ele não cometeu crime nenhum. […] O policial atirou no peito para matar”, iniciou Thaís. “Ele estava com uma caixa de bala na mão vendendo por ali e simplesmente ofereceu. Eu não sabia que oferecer a mercadoria que você vende é crime. A gente está trabalhando, se você não quer comprar o doce, tudo bem. Você não é obrigado. Agora, um homem vir, sacar uma arma e tirar a vida de um pai de família desnecessariamente… Que mundo estamos vivendo? Isso é uma covardia! Ele saiu para comprar coisas para trabalhar e comprar as coisas pra filhinha dele e não voltou mais. Ficou estirado no chão porque um homem veio com uma arma e matou ele”, completou.
Prefeito de Niterói comenta o caso
Já na noite desta segunda, o prefeito de Niterói, Axel Grael (PDT), usou o próprio perfil oficial no Twitter para se manifestar sobre o ocorrido. Ele afirmou estar desde cedo em contato com a Secretaria de Direitos Humanos e a Secretaria Assistência Social e Economia Solidária que, segundo o político, estão oferecendo todo o apoio à família do vendedor morto.
Estou acompanhando o caso desde cedo, em contato com a Secretaria de Direitos Humanos e a Secretaria Assistência Social e Economia Solidária que estão oferecendo apoio à família.
— Axel Grael (@axelgrael) February 14, 2022
Ainda de acordo Grael, a Secretaria de Ordem Pública afastou os guardas municipais envolvidos na confusão com os manifestantes e está apurando a conduta utilizada após o crime. “Entendemos que Segurança Pública não se faz com violência e sim com ações integradas, garantindo a cidadania e os direitos de todos os cidadãos. Toda minha solidariedade à família de Hiago”, escreveu o prefeito de Niterói.
Entendemos que Segurança Pública não se faz com violência e sim com ações integradas, garantindo a cidadania e os direitos de todos os cidadãos.
Toda minha solidariedade à família de Hiago.— Axel Grael (@axelgrael) February 14, 2022