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Por que o preço do aluguel subiu tanto? Entenda!

Índice que reajusta maioria dos contratos fechou 2020 acima dos 20% e assusta inquilinos

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Aluguel (Foto: Reprodução / Pixabay)

Alta no aluguel assusta brasileiros. Foto: Reprodução Pixabay

Ter uma casa própria e não pagar aluguel é o sonho de milhões e milhões de brasileiros. Mas essa realidade está bem distante pra muita gente, que vê – a passos largos – o aumento significativo da desigualdade social, a falta de projetos habitacionais e o crescimento urbano descontrolado.

É verdade que a maior parte dos brasileiros mora, principalmente, em casas e em imóveis próprios, já pagos. A informação é da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) Contínua 2019, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As casas representam 85,6% das moradias no país, o equivalente a 62 milhões de lares. A maior parte é própria e quitada, o que corresponde a 66,4% ou 48,1 milhões. Apesar disso, os imóveis alugados representam 18,3% das moradias, o equivalente a 13,3 milhões, e os cedidos, 8,9%, ou 6,4 milhões.

Mas neste cenário tão caótico, com alta do desemprego e diminuição da renda das famílias (em especial as mais pobres), como fica a situação pra quem não tem casa própria? O Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) é a principal variável da macroeconomia e que influencia o cálculo do aluguel. Esse índice é medido pela Fundação Getúlio Vargas. O cálculo de reajuste anual do valor de aluguel é realizado pelo acumulado desse índice dos últimos 12 meses. Em 2020, esse indicador fechou com aumento de 23,14%. Essa é a maior alta desde 2002. Na prática, um aluguel que custa R$ 2.000,00 passa para R$ 2.462,80, se calculado como previsto em muitos contratos.

A alta do IGP-M sofreu forte influência do aumento do dólar e das chamadas commodities, como o minério de ferro. Isso faz com que haja aumento dos preços da soja, da carne e de outros alimentos. Robson Gonçalves, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), instituição que mede o IGP-M, explica os motivos que fazem com que esse indicador tenha variações tão significativas.

“É importante esclarecer que o IGP-M é muito influenciado pelos preços das matérias-primas. Na verdade, 60% desse indicador é composto pelo Índice de Preço ao Produtor Amplo, onde temos os preços dessas matérias-primas que, por sua vez, são muito influenciadas pela alta do dólar. Toda vez que a moeda americana sobre uma variação, pra mais ou pra menos, o IGP-M oscila. Por isso, é comum que esse indicador acumule alta de dois dígitos e, em outros anos, chegue a dar negativo. Isso explica porque o IGP-M acusou, no ano passado, essa elevação de mais de 23%”, explica o economista.

O especialista relembra ainda que o dólar teve sucessivos aumentos em 2020, influenciando a alta no indicador mais usado nos contratos de aluguel.

“Se a gente comparar o valor médio do dólar entre o início e o fim de 2020 vamos ver uma alta de mais de 30%. As pessoas ficam um pouco traumatizadas quando esse aumento no IGP-M chega aos dois dígitos, mas a gente não pode esquecer que às vezes tem taxas negativas e quem sofre quando isso acontece é mais o proprietário que o inquilino”, analisa.

Robson Gonçalves relembra ainda que o Índice Geral de Preços Mercado (IGP-M) começou a ser utilizado nos contratos de alugueis devido a não intervenção do governo, já que é um indicador produzido e encomendado por empresas privadas.

O IGP-M foi criado em 1989, e surgiu como a versão do IGP para o mercado financeiro. À época, o Brasil vivia a hiperinflação que chegou ao seu ápice em março de 1990, atingindo 80% ao mês. Após sete planos econômicos, a hiperinflação chegou ao fim em 1994 com a implementação e estabilização do Plano Real.

“Há alguns anos, havia receio de que o governo descontinuasse com índices de inflação, o que provocaria grande estresse para todos aqueles que firmam contratos. Apesar disso, o IGP-M é um índice produzido pela Fundação Getúlio Vargas, mas que é pago pelo setor privado, ou seja, o governo não tem qualquer ingerência no IGP-M. E é por isso que ele se tornou um porto seguro para a maioria dos contratos”, recorda.

“A maioria das pessoas não sabe, mas o IPCA pode ser usado para esses contratos de aluguel. O IPCA não tem variações nem muito altas, nem baixas. Raramente na história esse indicador chega a dois dígitos. Por outro lado, o IPCA também não acumula variações negativas. Ele não é nem maior nem menor que o IGP-M, mas tem variações mais moderadas. Mas por conta daquela preocupação antiga de que o governo pudesse extinguir o IPCA porque é medido pelo IBGE, que é um órgão público, esse receio, que nem faz mais sentido hoje em dia, faz com que as pessoas que fecham contratos fiquem dependentes do IGP-M tendo a necessidade de renegociar contratos em momentos como esse”, finaliza o economista Robson Gonçalves.

Reveja seu contrato, mantenha a calma e negocie com seu inquilino. Afinal de contas, ninguém quer ficar com o imóvel vazio, com IPTU e condomínio batendo a porta.