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‘O Dilema das Redes’: tecnologia mocinha ou vilã?

Documentário recém-estreado na Netflix chama atenção para as armadilhas e dependência que a internet pode causar

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Não é de hoje que a tecnologia, a internet e, principalmente, as redes sociais geram controvérsias. Se, por um lado, é inegável o quanto elas podem facilitar, por outro, também é notável que precisamos estar atentos aos mecanismos utilizados para nos prender a elas.

E esse debate ficou ainda mais em evidência após a Netflix lançar, no início de setembro, o documentário “O Dilema das Redes”.

Afinal, até que ponto é possível usufruir dos avanços tecnológicos sem tornar algo prejudicial para a saúde mental?

Segundo a psicóloga Daniela Faertes, antes de tudo, é necessário refletir de que forma você está se relacionando com essas redes e o quanto de dependência a internet pode causar.

“A sociedade em geral está se configurando em um formato que gera a necessidade da tecnologia para os afazeres do dia a dia. O que antes era um facilitador, agora virou uma necessidade.  O limite entre o normal e o patológico de qualquer comportamento se faz quando se apresenta um padrão de uso excessivo; que impacta negativamente a pessoa ou prejudica uma esfera importante da vida; além de sintomas de abstinência quando você diminui ou restringe o uso,  como irritabilidade, impaciência, desespero… Assim podemos considerar, sim, que muitas pessoas estão dependentes da internet. Além disso, as redes possuem um alto teor adictivo, como chamamos por gerar prazer ou alívio do desprazer. Nela, você tem inputs de dopamina e esquecimento dos problemas da vida real, por isso, é tão fácil que a gente se perca no tempo quando começamos a navegá-la”, analisa a especialista.

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Essa dependência pode prejudicar a saúde mental em diversos níveis. Desde questões de autoestima, por causa do comparativo que a internet propicia (principalmente as redes sociais), até questões relacionadas a encontrar, no mundo virtual, situações que você não possui no mundo real. Assim, pode ocorrer uma distorção de padrões de comportamento, até mesmo os prejuízos de foco que remetem a menos atenção à família, amigos e trabalho.

“Não adianta adentrarmos no efeito de demonização da tecnologia, ela é uma realidade com inúmeros ganhos, inclusive no campo da ciência, da medicina, segurança, coisas que nenhum de nós queremos voltar atrás. Nós, adultos, é que temos que dar um jeito de lidar com elas, seja no âmbito macro ou social, por meio de regulamentações protetivas, até no âmbito individual de limite e autocontrole.  A grande questão e que assusta, sim, é a rapidez exponencial que ela cresce, e o quanto nós vamos mergulhando nela sem entender seus mecanismos. Por isso é tão importante percebermos, por exemplo, que o que chega para nós são conteúdos que têm a ver conosco e não, necessariamente, esses mesmos elementos vão chegar para outras pessoas. Temos que saber que estamos tendo uma parte das informações, e não o todo. Estamos sendo essa isca para consumo e, por isso, precisamos resistir às tentações”, afirma Daniela.

Para a profissional, é importante ficar ainda mais atento ao uso das crianças que nascem em um mundo digital, já que o comportamento é moldado pelo que assistimos e pelo ambiente em que vivemos. Por isso, é fundamental que os responsáveis tenham controle do conteúdo que as crianças estão absorvendo. O problema é que, é muito mais difícil com o acesso ilimitado e infinito que existe hoje.

“Isso é que é a grande questão e perigo, cérebros em desenvolvimento são, sim, muito moldáveis ao que assistem no ambiente ou nas telas. O controle parental das informações absorvidas pelas crianças via internet é regra e não é opcional. Quando ele não existe, está se colocando crianças em contato com informações que elas não são capazes de processar adequadamente, em uma quantidade nunca antes vista”, alerta.

 

Usando a internet a seu favor

Para Daniela, é possível tirar diversas vantagens no uso da internet, dentre elas, mergulhar em uma infinidade de informações úteis, adquirir conhecimentos, contatar pessoas que estão longe, assistir aulas do mundo todo, palestras, fazer exercícios físicos e meditação guiadas, entre outros benefícios.

A psicóloga dá dicas de como usar a ferramenta com equilíbrio para não se prejudicar. “Desligar as notificações é fundamental pra ter o poder de escolha de quando e como quer entrar e não ter sua mente invadida sempre que surge algo novo. Limitar o tempo e espaços em que você vai permitir que ela entre na sua vida é fundamental também”, explica.

 

A importância de produções como “O Dilema das Redes”

Desde que estreou na Netflix, o documentário “O Dilema das Redes” gerou uma grande repercussão na internet. Entre análises e tweets, muitas pessoas estão afirmando que não percebiam o quanto estão sendo constantemente vigiadas pela tecnologia antes de assistir ao filme.

Daniela explica que produções que falam sobre o funcionamento das redes são importantes para que a sociedade reflita e aprenda a lidar com elas. “É fundamental que o mundo debata sobre esse assunto. Apenas criticar, sem tomar as medidas necessárias, não é produtivo. Tendo em vista que a tecnologia é um dos setores mais ricos e com investimentos do mundo, saber como elas funcionam é a melhor forma de nos protegermos e corrermos atrás de ver como podem ser regulamentadas, para além do controle individual”, finaliza.