Rio
Mulher é demitida de rede atacadista após denunciar racismo e intolerância religiosa
Ministério Público do Trabalho pediu indenização de R$50 milhões do mercado Atacadão, que lucra R$1,8 bilhão por ano
Uma auxiliar de cozinha do Hipermercado Atacadão, unidade de Santa Cruz, foi demitida da empresa após denunciar ter sido vítima de racismo e intolerância religiosa no local.
Nataly Ventura da Silva, de 31 anos, seguidora do candomblé, disse que desde o dia 28 de março, quando começou a trabalhar na empresa, era vítima de ofensas racistas e intolerância religiosa vindas de um funcionário identificado como Jeferson Emanuel. A primeira denúncia foi feita no dia 30 de maio, através do Disque Direitos Humanos (Disque 100).
Ela também fez reclamação com a chefe do setor, identificada como Isabele. No entanto, nenhuma medida foi tomada contra o funcionário. Dias após a denúncia, Nataly foi demitida sob o argumento de que estaria causando desarmonia no ambiente de trabalho.
Ao retornar a cozinha, para buscar seus pertences pessoais, Nataly encontrou um avental com uma mensagem racista assinada por Jefferson.
“Ao retornar a cozinha para pegar minha bolsinha de remédios, celular, carregador, me deparei com um avental com as escritas: ‘Só para brancos usar, assinado Jefferson’. Eu saí de lá com meus pertences e liguei novamente para o Disque 100. Eles me orientaram a procurar uma delegacia e foi o que eu fiz. Eu aconselho a todas as pessoas que estão passando pela mesma coisa que eu passei, que denunciem. Nós não temos que nos calar”, relatou Nataly.
Somente após a denúncia dos fatos ao Ministério Público do Trabalho (MPT), a empresa dispensou Jefferson. Segundo o MPT, antes da denúncia, a chefia da empresa ordenou apenas que o funcionário apagasse a mensagem.
A procuradora Fernanda Diniz marcou uma audiência virtual com a empresa, pedindo a readmissão da funcionária, mas o Hipermercado, que pertence ao grupo Carrefour e lucra R$ 1,8 bilhão por ano, não chegou a um acordo.
“Por conta da negativa, o MPT instaurou uma ação civil pública. Pedimos uma indenização de R$50 milhões por dano moral coletivo. O dinheiro deverá ser destinado a instituições de fins lucrativos que prestem serviços à população negra”.
Sindicato dos Comerciários se manifestou:
Em nota, o Sindicato dos Comerciários disse que está prestando assistência jurídica a Nataly. Segundo Márcio Ayer, presidente do Sindicato, que possui em sua estrutura o Departamento Jurídico para o atendimento de questões jurídicas dos empregados no comércio, “é crime uma cena de racismo e intolerância religiosa, como essa. O Sindicato dos Comerciários está cumprindo seu papel de também prestar assistência jurídica necessária para a Nataly. A legislação proíbe qualquer tipo de discriminação no ambiente de trabalho e quem passar por situações assim não deve hesitar em procurar apoio”.
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