Mundo Corporativo
Ausência de método pode impulsionar procrastinação no estudo
Pesquisas apontam que a maioria dos estudantes procrastina; especialista em memorização, Renato Alves, destaca os principais desafios por trás do adiamento de tarefas e sugere estratégias para melhorar o desempenho acadêmico
Deixar atividades importantes para a última hora é um hábito comum, especialmente entre estudantes. O famoso “deixar para amanhã”, conhecido tecnicamente como procrastinação, ocorre com frequência na rotina de quem se prepara para vestibulares, concursos públicos ou tarefas acadêmicas.
Uma pesquisa divulgada pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) indica que cerca de 82% dos universitários admitem adiar suas obrigações. Outro levantamento, publicado pela VEJA, aponta que 50% dos discentes procrastinam seus estudos de maneira crônica, o que preocupa especialistas da área educacional.
Segundo Renato Alves, especialista em memorização e pesquisador cognitivo nas áreas de aprendizagem, a procrastinação está relacionada à dificuldade de lidar com situações estressantes, ou seja, “o estudante adia suas tarefas devido à sua incapacidade de enfrentar o desafio de estudar e se preparar adequadamente para as avaliações”.
A neurociência, nesse sentido, enfatiza que essa postergação ocorre especialmente com atividades menos prazerosas devido ao conflito entre o sistema límbico, que busca satisfação imediata, e o córtex pré-frontal, responsável pelo planejamento de metas e tomada de decisões, conforme informado na publicação da VEJA.
Ainda de acordo com a FINEP, oito a cada dez estudantes procrastinam. O levantamento, realizado com 499 participantes, identificou as atividades mais adiadas: “estudo de rotina” lidera a lista, sendo postergada por 40% dos respondentes, seguido por “fazer trabalhos” (25%), “realização de exercícios” (23%) e “estudar para provas” (11%). O principal motivo citado foi a preguiça.
Para Alves, o problema central não é a procrastinação em si, mas a falta de estratégias eficientes para consolidar o conteúdo na memória. “Quando o estudante procrastina e estuda de forma incompleta, sua compreensão se torna fragmentada, semelhante a um quebra-cabeça com peças ausentes, essa lacuna de conhecimento pode prejudicar o desempenho na prova e comprometer os resultados”, afirma.
A falta de organização também pode intensificar esse problema. “Estudantes desorganizados têm dificuldade para estruturar ideias, desenvolver raciocínios lógicos e articular pensamentos de forma coesa, o que resulta na perda de tempo, prazos e informações importantes”, alerta o especialista.
Além disso, ele informa sobre os motivos mais recorrentes dos adiamentos: a disposição de mecanismos atrativos de distração, como jogos eletrônicos e redes sociais. “Isso resulta na substituição de tarefas importantes por atividades triviais que não agregam valor significativo, servindo como uma forma de evitar responsabilidades”.
Estratégias para superar a procrastinação
Em 2004, Renato Alves lançou o livro Não Pergunte se Ele Estudou, no qual revela que a falta de interesse dos alunos pelos estudos está diretamente ligada à ausência de técnicas e métodos eficazes de aprendizado. A obra busca apresentar soluções para esse problema, oferecendo alternativas para estimular a motivação e o desempenho.
O primeiro passo para superar o hábito de procrastinar é avaliar se a estratégia de estudo adotada tem sido eficiente. “Uma maneira de medir isso, conforme abordado em meu programa de estudo e memorização, é através da própria memória: se, após o estudo, o conteúdo é facilmente retido e lembrado em diferentes momentos, significa que o aprendizado foi bem-sucedido”, explica o profissional.
Outro aspecto fundamental é a capacidade de explicar conteúdo estudado, servindo como indicativo de memorização. Alves recomenda o investimento de tempo em técnicas que aprimorem essa memorização e que permitam processar grandes volumes de informação com qualidade e em menos tempo.
Em seu livro O Cérebro com Foco e Disciplina, o pesquisador destaca a organização como um pilar importante nesse processo, demonstrando que indivíduos organizados tendem a ter uma memória mais eficaz. “Essas pessoas não costumam esquecer compromissos ou objetos, o que as torna mais ágeis e produtivas”, afirma.
Além de boas estratégias de memorização, o uso de aplicativos e plataformas digitais pode auxiliar na organização dos estudos e servem de prevenção para os adiamentos estudantis. No entanto, Alves ressalta que, antes de utilizar ferramentas externas para esse fim, é necessário compreender que a organização também representa um valor moral.
“Se uma pessoa deseja ser mais organizada, deve, antes de tudo, valorizar esse princípio. A organização é uma virtude essencial para que o indivíduo desenvolva uma mentalidade mais estruturada e consiga perceber o mundo, suas estratégias e seus estudos de forma mais ordenada. Isso contribuirá significativamente para o sucesso do aluno em sua preparação e rotina acadêmica”, conclui.
Para mais informações, basta acessar: www.renatoalves.com.br