Saúde
Quais são os principais desafios da prevenção da dengue no Brasil?
O Brasil enfrenta uma crise de dengue sem precedentes, com o aumento de casos impactando a saúde pública.A dengue, transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, é uma ameaça constante para a saúde pública no Brasil. Em 2024, o país viu um aumento alarmante dos casos, superando 6 milhões de registros confirmados, conforme dados do Ministério da Saúde. Este cenário tem provocado a reflexão sobre a eficácia das campanhas de prevenção, que tradicionalmente enfatizam a eliminação de água parada e outros criadouros.
A pesquisa recente do Unicef, em parceria com a Takeda, tem mostrado que as estratégias atuais, que dependem fundamentalmente de comunicação focada na eliminação de focos de mosquitos, não são suficientes para induzir comportamentos preventivos significativos. Neste contexto, não basta apenas informar a população sobre os riscos, mas também entender e abordar as barreiras psicológicas, sociológicas e estruturais que dificultam a adesão a práticas preventivas.
Por que medidas tradicionais não são suficientes para a prevenção da dengue?
A questão crucial enfrentada pelos programas de prevenção é porque, apesar de informadas, as pessoas muitas vezes não adotam os comportamentos necessários para evitar a dengue. O modelo de Determinantes Comportamentais desenvolvido pelo Unicef sugere que o comportamento humano é complexo e influenciado por uma gama de fatores, muitas vezes não abordados adequadamente pelas campanhas existentes.
Aspectos psicológicos, como o histórico pessoal de infecção e a percepção de risco, influenciam diretamente as ações preventivas. Aqueles que nunca experimentaram a doença tendem a subestimar seu perigo potencial. Além disso, tarefas como a limpeza regular de calhas e caixas d’água são vistas como onerosas, tanto em termos de tempo quanto de custos, especialmente em áreas econômicas mais vulneráveis.
Quais são as barreiras sociológicas e estruturais?
A nível sociológico, a falta de organização comunitária eficaz tem sido um obstáculo significativo. Sem uma forte rede de apoio dentro das comunidades, muitos indivíduos não se sentem encorajados ou obrigados a participar de ações coletivas de prevenção. Além disso, a ausência de confiança nas instituições públicas compromete a adesão às orientações de saúde e prevenção promovidas por elas.
Fatores estruturais também desempenham um papel crucial. Em muitas áreas, a coleta de lixo inadequada e a presença de terrenos baldios facilitam o acúmulo de água parada, criando ambientes propícios para o mosquito se reproduzir. A atuação insuficiente de agentes de endemia e a falta de infraestrutura básica contribuem para a perpetuação do problema.
Como superar as dificuldades na prevenção da dengue?
Para enfrentar esses desafios, a pesquisa recomenda uma abordagem integrada que não apenas informa, mas também desloca o foco para intervenções mais contextuais e comunitárias. Uma estratégia é associar o controle de mosquitos a comportamentos desejáveis, como a limpeza doméstica regular, elevando sua prioridade no dia a dia das pessoas.
Além disso, uma comunicação mais eficaz que destaque o risco para as crianças pode mobilizar maior engajamento dos pais, uma vez que a saúde dos filhos é uma preocupação central. Outra medida essencial é reduzir os custos e esforços associados à prevenção, o que pode ser conseguido através de investimentos em infraestrutura urbana e serviços públicos.
Qual o papel das políticas públicas e do engajamento comunitário?
Investir na educação e sensibilização, por meio de campanhas que utilizem dados locais e histórias pessoais, pode aumentar a percepção de risco e engajamento comunitário. As políticas públicas devem focar na criação de sistemas resilientes que possam integrar saúde e saneamento básicos, promovendo ambientes mais saudáveis e seguros.
Finalmente, envolver as comunidades em discussões e decisões locais é crucial para construir redes de suporte sólidas e eficazes. Dessa forma, o enfrentamento das arboviroses como a dengue torna-se uma responsabilidade coletiva, onde cada contribuição, por menor que seja, pode resultar em um impacto significativo na saúde pública do país.