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Eleições 2024

Como Pablo Marçal transformou processo eleitoral paulistano em ‘espetáculo de confronto’

Empatado tecnicamente nas pesquisas na disputa para prefeito de São Paulo, o empresário e influenciador digital aumenta o engajamento nas redes sociais

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Pablo Marçal. Foto: Reprodução

Em uma escalada na intenção de voto desde o início das pesquisas eleitorais, o nome de Pablo Marçal (PRTB) desponta como um dos principais na disputa pela Prefeitura de São Paulo. A última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, mostra o ex-coach em empate técnico com Guilherme Boulos (PSol) e Ricardo Nunes (MDB), com 22%.

Marçal, no entanto, chama atenção por não ter um passado na política. Além de coach, trabalhava como empresário e influencer antes das eleições. Esse distanciamento da política, entretanto, é um dos fatores que chama a atenção de eleitores, segundo especialistas.

“O discurso dele não mudou, o discurso é o mesmo, é o mesmo do coach, das pessoas que chegam a uma determinada condição melhor pelo seu espírito empreendedor, pelo seu esforço pessoal. Ele busca se diferenciar e, nesse sentido, ele leva uma vantagem sobre Bolsonaro, ele realmente nunca teve cargo político, então, ele representa muito mais facilmente o antissistema do que o próprio Bolsonaro”, destacou Geraldo Tadeu, cientista político.

“Marçal capta a insatisfação de trabalhadores que, em parte, apoiaram Bolsonaro, mas ficaram desiludidos. Nessa conjuntura, ele surge como uma nova figura que capitaliza o discurso anticorrupção e antissistema, pontos centrais para uma população cansada da ausência do Estado. Ele transforma a dor social, manifestada pela violência e negligência governamental, em uma retórica populista e de enfrentamento”, afirmou.

Segundo o cientista político, Pablo Marçal se alimenta de “violência simbólica”. “Quanto mais o conflito aumenta, maior seu sucesso. Ele transforma o processo eleitoral num espetáculo de confronto, ao mesmo tempo em que se posiciona como vítima das reações que ele próprio provoca”, disse.

Além disso, Marçal conseguiu, de acordo com os especialistas, transformar a corrida eleitoral em uma narrativa que gira em torno de sua figura e de suas promessas simplificadas de soluções para problemas complexos. Essa simplificação, embora atrativa para parte do eleitorado, insere-se em um contexto mais amplo de desconfiança nas instituições e apelos ao populismo.

Redes sociais

Outros candidatos com o mesmo perfil também vêm crescendo nas redes sociais. “Os algoritmos das redes sociais incentivam essa dinâmica, priorizando conteúdos que geram engajamento. O material de Marçal atinge tanto apoiadores quanto críticos, aumentando sua visibilidade. A única maneira de neutralizar essa estratégia seria a indiferença total, algo difícil em um cenário tão polarizado”, disse Tadeu.

Outro ponto importante é que Marçal pode ganhar ou não a eleição, mas certamente sairá maior da disputa do que entrou. “Ou seja, ele pode não ser eleito prefeito, mas ele ganhou um engajamento muito maior nas redes próprias. E aqui falando em projeto político, ele ganha espaço político, ganha imagem, ganha projeção nacional principalmente”, explica Leandro Gabiati, cientista político e diretor da Dominium Consultoria.

“Caso ele não seja eleito ou até seja eleito, mas, em 2026, ele poderá ponderar se opta por outro cargo ainda, talvez como senador, governador ou presidente da República. Então, a política, justamente o que oferece aos influenciados é engajamento nas redes. A política chama a atenção, principalmente essa política polarizada.”

Seu discurso, de acordo com os especialistas, é direcionado a uma nação progressivamente influenciada pela lógica cultural evangélica, que se estende além da religião. Esse pensamento reforça valores como a família tradicional, o individualismo e a crença no livre mercado como via para o sucesso financeiro.

Evangélicos

Entre o público evangélico, Marçal tem 29% das intenções de voto. Nesse eleitorado, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) oscilou cinco pontos para cima e aparece tecnicamente empatado com Marçal, com 27%. Guilherme Boulos (PSol), por outro lado, registra apenas 9%.

Mayra Goulart, professora do Departamento de Ciência Política, do Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), destaca que as grandes lideranças não estão apoiando Marçal. “É mais uma relação de identificação dos fiéis com ele, pelo linguajar e pela ausência de outro candidato no pleito paulista que seja propriamente um portador da identidade evangélica”, disse.

Além disso, a escolha de sua vice, Antônia de Jesus, mulher negra e policial militar, reflete o esforço de se aproximar da cultura evangélica, especialmente das mulheres, que compõem uma parte significativa de seu eleitorado. “Assim, Marçal se insere num espaço no qual religião, conservadorismo e empreendedorismo se entrelaçam para capturar o apoio de uma população fragilizada pela falta de soluções públicas robustas”, explicou João Lucas Moreira Pires, doutorando em sociologia política pela Universidade do Minho.

Em relação à escolaridade, o candidato desponta como principal nome entre os que têm Ensino Médio completo, com 26%. “No ponto de vista bem prático, ele já tem o voto da classe média, e essa classe média é, principalmente, mais religiosa, cristã, católica ou evangélica, já vota nele, mas ela não é suficiente para ganhar uma eleição. Então, o que parece claro é que o Pablo Marçal não está na disputa apenas para fazer figuração, ele está decidido a ganhar essa eleição. A estratégia de buscar o voto dos menos escolarizados é justamente para tentar ganhar volume e sair daquela condição de empate técnico que ele mantém com Boulos e com Ricardo Nunes, diz Geraldo Tadeu.

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