Releitura da ‘Última Ceia’ com negra no lugar de Jesus é vetada em mostra no RJ

Uma releitura do quadro “A Última Ceia”, de Leonardo Da Vinci,  foi excluída da exposição “O que te faz olhar para o céu?”, em cartaz no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro. A acusação de Elvira Freitas Lira, artista responsável pela obra, é que a pintura teria sido proibida de participar da exposição na qual ela faria parte previamente, para “preservar a imagem da instituição”.

De acordo com a artista, mesmo com muitas tentativas de negociação da parte do curador, a decisão foi estabelecida em Brasília e não houve acordo. O caso foi publicado no blog de Ancelmo Gois no site do jornal O Globo.

Em nota divulgada nesta quarta-feira (7), os Correios afirmaram que o assunto foi reavaliado e a obra será exposta para apreciação do público.

A pintura “E às vezes quase parece que não estou usando aquela coroa de espinhos” mostra uma mulher negra no lugar de Jesus. Ela tem uma auréola sobre a cabeça, indicando santidade. Homens brancos — seguindo a representação tradicional dos apóstolos — compartilham a refeição com homens e mulheres de pele escura. Não se pode dizer, objetivamente, se estão assustados com os novos pregadores ou se comungam com eles. Um deles tem o pescoço cortado. O sangue dos apóstolos abastece as taças assim como as chagas da mulher santificada se misturam ao vinho que escorre à mesa.

Lira defendeu a legitimidade do quadro: “Essa obra é uma das mais reproduzidas na história da arte, em diversos formatos, e na pintura quase sempre é apresentada com homens brancos e loiros, isso sim eu acho ofensivo com a humanidade e com a representação da ‘realidade’ da época. Por que isso foi considerado ofensivo pra uma instituição laica no Brasil, país laico?”

Segundo ela, não há exatamente uma justificativa para a obra. “As pinturas são o que são. Não vai ter moral, são contraditórias e a única certeza que tenho é que são sinceras. Algumas coisas não devem ser explicadas. Algumas palavras não devem ser ditas.”

Recentemente, a abertura dos jogos de Paris se viu envolvida em uma polêmica parecida, ao reencenar um banquete semelhante à pintura de Da Vinci. Os criadores explicaram depois que o quadro não representava a “Última Ceia”, mas o “Banquete dos Deuses do Olimpo”.