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Rio

SESC Quitandinha, em Petrópolis, recebe mostra de artistas negros

Sucesso de público e elogiada pela crítica, a mostra reúne obras de 240 negros do país e foi vista por mais de 130 mil pessoas no Sesc Belenzinho, em São Paulo. Exposição estará em cartaz, em Petrópolis de 3 de maio a 27 de outubro

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Palácio Quitandinha, em Petrópolis (foto: Antonio Pinheiro/SESC)

O Centro Cultural Sesc Quitandinha (CCSQ), em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, recebe, a partir desta sexta-feira (03/05), a exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro, a mais abrangente exposição dedicada exclusivamente à produção de artistas negros.

Depois de passar sete meses em São Paulo, onde recebeu mais de 130 mil visitantesa exposição chega na íntegra o Quitandinha, em outros formatos e dimensões, reunindo trabalhos de aproximadamente 240 artistas brasileiros pretos e pretas. A mostra poderá ser vista até 27 de outubro. A entrada é gratuita.

As 314 obras que estavam em exibição no Sesc Belenzinho (SP) vão ocupar os salões da área monumental do histórico edifício, que em 2024 completa 80 anos. Parte dos trabalhos, alguns inéditos, também serão expostos pela primeira vez na área externa e no lago em frente à unidade. A mostra vai ainda oferecer ao público uma programação paralela com ações em mediação cultural e atividades educativas, além de um programa público composto de debates e palestras com convidados.

Sob curadoria de Igor Simões, em parceria com Lorraine Mendes e Marcelo Campos, a mostra é resultado de um trabalho desenvolvido pelo Sesc em todo o país. A exposição conta com sete núcleos temáticos e apresenta obras em diversas linguagens artísticas, como pintura, fotografia, escultura, instalações e videoinstalações, produzidas desde o fim do século XVIII até o século XXI. A lista completa dos artistas participantes está disponível ao final do texto.

“O projeto Dos Brasis lançou um olhar aprofundado sobre a produção artística afro-brasileira e sua presença na construção da história da arte no Brasil. Um trabalho que contou com nossos analistas de cultura em todo o país, em um grande alinhamento nacional. A exposição Dos Brasis – Arte e Pensamento Negro é a culminância desse processo e oferece ao público não só a oportunidade de conhecer a obra de artistas e intelectuais negros, com também de refletir sobre sua participação nos diversos contextos sociais”, explica o diretor-geral do Departamento Nacional do Sesc, José Carlos Cirilo. 

Inaugurado em 1944, um ano antes do fim da Segunda Guerra Mundial, o Quitandinha abrigou um dos maiores hotéis-cassino das Américas. Recebeu personalidades brasileiras e hollywoodianas, como Carmen Miranda e Walt Disney. Também foi palco de eventos que marcaram a história, como da Conferência Interamericana para a Manutenção da Paz e da Segurança no Continente, em 1947, e a 1ª Exposição Nacional de Arte Abstrata, realizada em 1953. Na década de 1960, após a proibição dos jogos no Brasil, o cassino foi fechado e o hotel teve seus apartamentos vendidos, tornando-se um condomínio. Em 2007, a área monumental passou a ser administrada pelo Sesc RJ, que a transformou em um Centro Cultural.

Desde que foi reinaugurado como um Centro Cultural, em abril do ano passado, o Quitandinha vem sendo ocupado por exposições que resgatam a forte identidade afro-brasileira em Petrópolis. A primeira, intitulada “Um oceano para lavar as mãos”, com curadoria de Marcelo Campos e Filipe Graciano, apresentou uma revisão da história do Brasil a partir de narrativas não eurocentradas, pensada por curadores e artistas negros, levando o espectador à reflexão sobre a forte memória e produção artística negra na contemporaneidade, no Brasil e no município, e sua relação com o passado imperial. Depois, dos mesmos curadores, recebeu a coletiva “Da Kutanda ao Quitandinha”, em que o ponto de partida foi o território onde o edifício está inserido – uma região marcada por quilombos formadores da cidade.

“Agora, abrimos as portas para a ‘Dos Brasis’, que apresenta um recorte extraordinário da arte negra nacional. O Sesc RJ tem um compromisso inegociável com a democratização da cultura e do acesso à informação, sobretudo frente a um histórico de narrativas invisibilizadas ao longo da formação do nosso país. Os Centros Culturais da instituição vêm investindo em curadorias afrocentradas e recortes racializados, viabilizando novas leituras no campo das Artes, das Ciências Sociais e da história da produção artística moderna e contemporânea, tendo como finalidade a valorização da pluralidade da cultura brasileira”, declara o presidente do Sistema Fecomércio RJ, Antonio Florencio de Queiroz Junior.

A mostra, cujo título foi inspirado em verso do samba “História para ninar gente grande”, que deu o 20º título à Mangueira, em 2019, está dividida em sete núcleos: Romper, Branco Tema, Negro Vida, Amefricanas, Organização Já, Legitima Defesa e Baobá – que têm como referência pensamentos de importantes intelectuais negros da história do Brasil como Beatriz NascimentoEmanoel Araújo, Guerreiro Ramos, Lélia Gonzales e Luiz Gama.Em cada núcleo, há um acervo de obras de diferentes temporalidades, linguagens e estilos que dialogam com questões como tecnologias ancestrais e afrofuturismo.A mostra circulará em espaços do Sesc por todo o Brasil pelos próximos 10 anos.

“Dos Brasis, enquanto projeto expositivo, não se pretende uma exposição histórica, que tenha como pretensão esgotar o debate a partir da seleção de algumas figuras artísticas, escapando do gesto colonialista de mapear. O que propomos são várias formas de acesso às escritas que nos ponham em jogo, reescrevam e até invalidem nossas premissas, como um coro que não teça apenas na harmonia, mas também no conflito, na discordância e tire de nós a ideia de uniformidade essencializada, muitas vezes evocada para apagar nosso direito à humanidade expressa, também, no direito à contradição”, declarou o trio de curadores.