Presidente do Vitória, Fábio Mota, revela seis propostas de SAF
Conecte-se conosco

Campeonato Brasileiro

[Exclusivo] Presidente do Vitória revela seis propostas de SAF e diz: ‘Clube não concorda com nenhum modelo do Brasil’

Dirigente enalteceu a performance na liderança da Série B em entrevista ao tupi.fm

Publicado

em

[Exclusivo] Presidente do Vitória revela seis propostas de SAF e diz: ‘O clube não concorda com nenhum modelo do Brasil’. (Foto: Victor Ferreira/ECV)

Com diferentes modelos e necessidades, vários clubes no futebol brasileiro aderiram a gestão das SAFs (Sociedade Anônima do Futebol), dentre eles Vasco, Botafogo, Cruzeiro, Coritiba, Bahia, Cuiabá, Bragantino e América-MG, todos da primeira divisão. Outras agremiações receberam propostas e discutem a possibilidade de mudança. Líder da Série B do Campeonato Brasileiro restando sete rodadas para o término da competição, o Vitória tem um panorama diferente, de acordo com o presidente da equipe.

O clube vive um processo de reestruturação sob o comando do presidente Fábio Mota, que foi eleito em 2022 por três anos após um mandato tampão substituindo Paulo Carneiro. Em entrevista exclusiva ao site tupi.fm, o dirigente afirmou que não é contrário à SAF, mas considera ineficaz os modelos apresentados até hoje no país.

– O Vitória não concorda com nenhum tipo de modelo de SAF foi feita no Brasil. Nós não aderíamos. Desde que assumimos o clube na Série C temos propostas de SAF. Sempre disse que nas Séries C e B não tínhamos interesse. Quando chegássemos na Série A seria discutido um modelo adequado. Não concordamos em entregar o controle do futebol a grupos econômicos. Nada contra o capital, sou a favor do mercado privado, sou advogado e tenho minha vida no mercado privado, porém quando se confunde futebol sem resultado em campo complica – iniciou.

– As grandes SAFs vieram pra cá para fazer dos clubes barriga de aluguel. Chega aqui, compra a equipe, trás um monte de jogador desconhecido e bota para ser vendido na Europa. Eles não estão preocupados com resultados esportivos, torcida e tabela. É só você pegar hoje os quatro clubes do Brasil que estão na zona de rebaixamento, todos eles são SAF. Alguns pagaram algumas dívidas, outros alongaram pendências e querem tirar o dinheiro. Vitória não caminha nessa linha que a gente entende que passa por cima da história, tradição e cultura do clube. Outra coisa que critico esses modelos de SAF é que ninguém fez até então um valor para divisão de base. Basta a gente ter hoje um Hulk ou David Luiz que paga toda dívida e ainda sobre dinheiro – complementou Fábio Mota.

– Todo mundo que chega para fazer SAF quando faz um valor eixo, faz do Barradão, do CT, dos 500.000m², da Sede Náutica, mas não tem uma mensuração de quanto vale a base do Vitória. Dos dois mil atletas vinculados ao clube, quanto vale aquilo? Não estou dizendo que sou contra a SAF, sou contra aos modelos apresentados de gestão. Caso o Vitória volte a Série A vai debater um modelo com controle do futebol, que tenha um sócio parceiro investidor que possa investir no futebol do clube. Ou, podemos pensar num outro modelo com fundo de inestimento pelo fato da gente ter muita área aqui de construção civil. A SAF não é solução dos problemas do Vitória, até porque nossa dívida é pouca e está equilibrada. Quem fez SAF no Brasil não tinha outra opção senão ia fechar. Pensamos num modelo diferente – disse Fábio Mota.

O mandatário do rubro-negro baiano revelou que propostas já foram feitas ao clube, porém nenhuma delas se encaixa no modelo considerado ideal.

– Tivemos seis (propostas). Foram dois fundos nacionais, dois da Alemanha, outro da Holanda. Várias e várias sondagens continuam tendo. Como eu falei, não somos contra SAF, somos contra o modelo. Quando encontrar o que se assemelha ao que nós pensamos vamos sentar e conversar.

– Encontrar um com modelo com pelo menos 30% de investimento no futebol. Concordo com a profissionalização das áreas do futebol, mas que esse controle seja entre o clube e investidor. O modelo ideal é que o clube tenha 51% do controle do futebol, que venha ser um sócio e não o dono. Quem veio até agora está interessado em levar jogador para Europa, Japão e fazer dinheiro. Muito mais do que o valor são os métodos para chegar a esse valor. Temos hoje 189 atletas que moram no clube. Ninguém até hoje conseguiu mensurar a do Vitória e de nenhum outro time. Todo mundo que fez SAF entregou o patrimônio material.

Proximidade de retorno a primeira divisão em 2024

Depois de um período de cobranças e instabilidade no Campeonato Estadual e Copa do Brasil, o Vitória faz uma excelente campanha na Série B. O time lidera a competição faltando sete rodadas para o fim. Desde 2018, o Leão não disputa uma Série A nacional. Com mais vitórias (18), a equipe liderou 19 rodadas na segunda divisão – equivalente a um turno inteiro.

– Nós montamos uma equipe nova esse ano. O time que subiu da Série C foi desmanchado. Em uma temporada é difícil conseguir dar liga em um time de futebol e nós tivemos essa dificuldade com jogadores novos, de vários locais, misturados com atletas da base. O maior problema de ficar fora das semifinais do Campeonato Baiano e ter saído da Copa do Brasil para o Nova Iguaçu foi o fato de ter montado uma equipe nova. No segundo semestre o time estava mais entrosado, lembrando que mesmo com tudo isso tivemos o apoio da nossa torcida. O Vitória tem hoje 27 mil sócios, com média de público de 26 mil torcedores no Campeonato da Série B, sendo a oitava maior do Brasil. A torcida foi um fator preponderante e tem sido o décimo segundo jogador da equipe desde a Série C. Esse comportamento tem nos ajudado bastante. Mudamos a comissão técnica e toda questão envolvendo a preparação física. Adquirimos novos equipamentos com orientação da nova parte técnica. O segredo de brigar pelo objetivo é ter persistido nos jogadores que contratamos no início do ano, já que na segunda janela fizemos contratações pontuais, cinco ou seis. Os atletas se conheceram, deu liga e melhoramos bastante a parte física da equipe. Assumi o clube há cerca de dois anos na Série C num momento mais difícil do Vitória. Graças a Deus conseguimos o acesso da C para a B e estamos focados em voltar à Série A, que é o nosso maior planejamento. Nós ficamos 23 anos na Série A. Infelizmente, as gestões passadas jogaram o time para Série C. Estamos reconstruindo o clube aos pouquinhos e muito esperançoso com a volta. Estamos na liderança da Série B e temos mais sete partidas para fazer até o fim da competição.

– Representa muito (acesso)! O Vitória tem uma estrutura muito grande. Nós temos nove campos de futebol, divisão de base do Sub-9 ao Sub-20 e mais de 400 funcionários. A despesa de custo do clube é alta. São quatro milhões de torcedores que viveram tempos sombrios por estar na Série C sem receita nenhuma de Televisão. A receita de Série C custa R$ 400 mil, Série B é R$ 8 milhões e Série A beira os R$ 100 milhões. Veja a transformação que é preciso para manter nossa estrutura. Nós possuímos no centro de Salvador 500.000m² de área de uma estrutura muito grande. O retorno para a Série A representa o equilíbrio das finanças e o Vitória voltar a ser aquela equipe campeã Brasileira e vice-campeã da Copa do Brasil, que sempre brigou em cima saindo desse marasmo quando encontrei o clube na Série C.

O presidente detalhou as melhorias em relação a parte estrutural que estão sendo realizadas no clube.

– Estamos concluindo a ampliação da academia dos atletas trazendo equipamentos novos. Temos aqui uma equipe de fisiologia e fisioterapeutas que é toda da Seleção Brasileira que nos orienta em cima disso para fazer os investimentos. Assim que chegamos reformas em todos os campos. Só para a base seis campos de futebol renovados. Temos um mini-estádio dentro do Barradão. Aqui tem dois estádios, Manoel Barradas onde joga a equipe profissional e temos outro com capacidade para duas mil pessoas onde jogam nossas categorias de base Sub-17, Sub-15 e futebol feminino. Temos um hotel dentro do Vitória que é uma concentração mesmo. É uma estrutura de Série A. Estamos concluindo 12 camarotes no estádio Barradão, vamos fazer a cobertura, vamos evoluir com a nova arena. Estamos cheios de projetos e a volta à Série A vai coroar todo projeto até o fim de meu mandato até dezembro de 2025.

Elenco com mescla de juventude e experiência

Atacante Leo Gamalho. (Foto: Victor Ferreira/EC Vitória)

O Vitória conta com alguns nomes conhecidos no cenário carioca e brasileiro como: Giovanni Augusto, Osvaldo, Wellington Nem e Gegê. A diretoria agregou atletas com experiência em Série B e jogadores revelados nas categorias de base.

– O Vitória tem tradição de revelar talentos como Hulk, do Atlético-MG, e David Luiz, do Flamengo, que são as últimas revelações jogando no Brasil, além de Vampeta, Bebeto, Dida, Paulo Isidoro, Alex Alves, Edilson e outros. Nossa categoria de base é bem forte. Lucas Arcanjo é o melhor goleiro da Série B, um menino de 22 anos. Temos o Marcos e Rodrigo Andrade também. Foi um misto entre base e experiência acrescentando o Leo Gamalho. Contratamos atletas com características de Série B, que é uma competição diferente de tudo. Se pegar a tabela vai ver que essa edição tem sido a mais competitiva dos últimos anos. O nível é bem parecido, tanto que sete equipes brigam por quatro vagas. Do líder Vitória ao quinto colocado Atlético-GO são cinco pontos apenas. Trouxemos o Leo Condé, um técnico que conhece muito bem a Série B, sendo quinto colocado no ano passado pelo Sampaio Corrêa – explicou Mota, enfatizando a preparação na reta final do Brasileiro.

– Jogo a jogo. A diretoria está fazendo sua parte dando as melhores condições possíveis. Viajamos sempre um dia antes e voltamos um dia depois para dar descanso aos atletas. Todas as viagens são muito complicadas devido aos grandes deslocamentos. Os jogadores estão muito fechados entre si, grupo coeso e ciente do objetivo. Tá tudo definido como premiação se for campeão e se subir.

Confira outros trechos da entrevista

Início com cinco vitórias consecutivas, 13 gols marcados e nenhum sofrido

Os institutos de pesquisa que fazem planejamento de previsão davam o Vitória como sério candidato para voltar a Série C. Isso gera um desafio muito grande. Não tivemos momento de euforia porque a gente trabalha pra isso acontecer. Sempre disse a torcida que não era para ganhar o Baiano, Copa do Brasil, Copa do Nordeste, e sim voltar para Série A. Todos os cartuchos, recursos e patrocínios que nós conseguimos trazer para o clube foram colocados na Série B. O Vitória é o único do Brasil que paga salário adiantado. O salário de outubro que vence cinco de novembro nós pagamos em outubro. Não tem nenhum time em nenhuma divisão do Brasil, seja na A, B ou C que paga adiantado seus atletas. Não devemos salário, bicho, funcionários, jogadores, imagem e nada. Montamos um planejamento financeiro para que a gente pudesse voltar para Série A. Mesmo sendo líder continuamos com os pés no chão e vamos jogo a jogo para subir.

Goleada inesperada por 6 a 0 para o CRB e três vitórias seguidas

Nós temos um elenco experimentado. Os jogadores sabem que aquilo foi um resultado atípico, que acontece uma vez ou outra no futebol. Nós fomos para Maceió sem lateral-direito e esquerdo, mas o 6 a 0 era inadmissível. Nos fechamos e o resultado não abateu o grupo. Foi provado na sequência que foi um acidente de percusso. Quero saber qual time do mundo leva esse placar e no próximo jogo vende todos os ingressos, isso significa a torcida do Vitória. A torcida abraçou o time mostrando que está junto no projeto e o resultado foi a vitória por 3 a 0 sobre o Avaí. Ganhamos três seguidas e restam sete pontos para voltar à divisão de elite.

Clássico Ba-Vi em 2024 na Série A

(Foto: Arte/divulgação)

Para o futebol baiano e do Nordeste evidente que seria bom ter os dois na primeira divisão. Para mim como torcedor prefiro que eles desçam e o Vitória suba, também sou torcedor e sincero. Deixa eles lá brigando pra não cair e a gente aqui lutando para ser campeão e subir. A gente tem Ba-Vi na Copa do Nordeste e no Campeonato Baiano. Os clássicos estão garantidos, não precisa ser automaticamente na Série A.

Série A com 20 clubes

Eu acho que é um bom número. Concordo com 20 na Série A e 20 na Série B. Não pode abrir muito senão a competição fica defasada e vai gerar problemas de calendário, que já existe no nosso futebol. 20 clubes eu acho um bom número.