Rio
Luzes do Cristo Redentor são apagadas em solidariedade a Vinícius JR
Atacante sofreu novamente ataques racistas durante partida na Espanha
As luzes do Cristo Redentor foram apagadas no início da noite desta segunda-feira (2), como símbolo da luta coletiva contra o racismo sofrido pelo jogador Vinícius Júnior, do Real Madrid.
A ação é uma cooperação entre o Núcleo de Esporte e Fé do Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, a Confederação Brasileira de Futebol e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol
Na partida contra o Valencia no último domingo (22), o atacante acusou parte da torcida de chamá-lo de “macaco” no segundo tempo. O jogo chegou a ficar paralisado por cerca de oito minutos. Na reta final da partida, o brasileiro foi expulso após confusão com jogadores das duas equipes.
Poucas horas depois após sofrer um novo caso de racismo no Campeonato Espanhol, o atacante Vinicius Jr, do Real Madrid, utilizou as redes sociais para desabar. Através de duas publicações distintas, o brasileiro criticou La Liga, que administra o Campeonato Espanhol, e, posteriormente, indicou que pode deixar o Real Madrid.
O primeiro protesto do brasileiro foi nos Stories do Instagram, onde fez uma crítica mais direta.
“O prêmio que os racistas ganharam foi a minha expulsão! No es fútbol, es @laliga” – escreveu o jogador, marcando o perfil oficial de La Liga.
Na ocasião, Vini fez uma crítica direta à entidade, que já há algum tempo não toma uma atitude enérgica diante de todos os episódios de racismo – a maioria deles envolvendo o atacante do Real Madrid.
Minutos depois, ele fez uma publicação no feed do Instagram e no Twitter, onde relembrou grandes nomes brasileiros que foram brilhantes no Campeonato Espanhol, lamentou o ocorrido e indicou uma possível saída do Real Madrid.
“Não foi a primeira vez, nem a segunda e nem a terceira. O racismo é o normal na La Liga. A competição acha normal, a Federação também e os adversários incentivam. Lamento muito. O campeonato que já foi de Ronaldinho, Ronaldo, Cristiano e Messi hoje é dos racistas. Uma nação linda, que me acolheu e que amo, mas que aceitou exportar a imagem para o mundo de um país racista. Lamento pelos espanhóis que não concordam, mas hoje, no Brasil, a Espanha é conhecida como um país de racistas. E, infelizmente, por tudo o que acontece a cada semana, não tenho como defender. Eu concordo. Mas eu sou forte e vou até o fim contra os racistas. Mesmo que longe daqui” – escreveu Vini Jr.
Entenda o caso:
Aos 24 minutos do segundo tempo da partida deste domingo (21), duelo contra o Valencia, pela 35ª rodada do Campeonato Espanhol, o duelo precisou ser paralisado após parte da torcida adversária ecoar gritos de “mono” (macaco) para o brasileiro. Na ocasião, o atacante puxou o árbitro Ricardo De Burgos Bengoetxea para denunciar um determinado torcedor atrás do gol.
O árbitro então conversou com jogadores e com os técnicos dos dois times, além do quarto oficial. O sistema de som do Mestalla emitiu dois avisos: um de que a partida tinha sido paralisada por causa desse episódio de racismo, e o segundo de que ela só voltaria caso os xingamentos e cânticos fossem encerrados.
Vini Jr ainda acabou sendo expulso do jogo após uma confusão no final da partida, por conta de uma discussão áspera com o goleiro Mamardashvili, do Valencia. Na ocasião, ele sofreu um mata-leão do atacante Bengoetxea, mas, ao se desvinciliar, acertou um tapa no rosto de um adversário, motivo pelo qual recebeu o cartão vermelho.
Posicionamento da Liga:
Em nota divulgada após a partida deste domingo, LaLiga declarou que vai investigar os “incidentes” ocorridos no estádio Mestalla. A liga também informou que já solicitou todas as imagens disponíveis para investigar o caso e, caso necessário, vai tomar “todas as medidas cabíveis”.
Até o fim e março, a entidade já tinha registrado oito reclamações na Justiça por racismo contra Vinicius Junior nesta temporada. A liga espanhola criou em fevereiro uma comissão específica para lidar com casos relacionados ao brasileiro, mas até o momento não existiu nenhuma punição exemplar.
O Valencia, por sua vez, emitiu comunicado condenando “qualquer tipo de insulto, ataque no futebol”. O clube se declarou contrário à violência física e verbal nos estádios e lamentou o ocorrido no jogo contra o Real Madrid. Porém, classificou o caso como “episódio isolado” e prometeu tomar “as medidas mais severas” após investigação. Além disso, condenou qualquer ofensa e pediu “respeito máximo” à sua torcida.
Logo após a partida e todos os casos ocorridos, companheiros de Vini Jr se solidarizam com ele e também criticaram a falta de atitudes que visem extinguir o racismo na Espanha. Um deles foi o técnico Carlo Ancelotti.
“Houve neste ano uma dezena de denúncias pelos insultos ao Vinicius. E daí? O que aconteceu? Nada” – disse o treinador merengue.
“Isso não é novidade. A falta de respeito ao Vinicius acontece em praticamente todos os estádios da Espanha. Ele é um jogador que temos que proteger, é chave para a nossa liga. Espero que LaLiga consiga protegê-lo” — declarou o volante Ceballos.