Desembargador compara Flordelis com Gabigol e chama ex-deputada de ‘grande jogadora da cidadania’

O desembargador Siro Darlan foi uma das sete testemunhas ouvidas, nessa quinta-feira (10), durante o quarto dia de julgamento da ex-deputada federal Flordelis e de mais quarto réus acusados de envolvimento na morte do pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019. O magistrado foi um dos nomes convocados pela defesa da ex-parlamentar e, após prestar o camisa depoimento, conversou com a imprensa.

Ao falar sobre todo o caso envolvendo a morte do pastor e as acusações contra Flordelis, Siro Darlan fez uma analogia com o futebol e comparou a ex-deputada com ninguém menos que o atacante do Flamengo Gabriel Barbosa, o Gabigol. “Nós temos muita facilidade de bater palmas e muita facilidade para vaiar uma pessoa”, iniciou.

“Quem vai ao Maracanã sabe que quando o Gabigol faz um gol, a gente grita o nome dele. Quando ele erra um passe, a gente diz que ele é um perna de pau. E a gente repete isso com a Flor, agora. A Flor foi uma grande jogadora da cidadania”, disparou Siro Darlan.

Ao longo do depoimento que prestou ao Tribunal do Júri, o desembargador relatou que acompanhou de perto a trajetória de Flordelis e dos mais de 50 filhos dela, a maioria afetivos, e que ajudou a fiscalizar as crianças quando era juiz da Vara de Infância e Juventude no Rio de Janeiro. E enquanto o magistrado contava essa história no plenário, a ex-parlamentar se levantou e falou, chorando, que era inocente. Se dirigindo diretamente para Siro Darlan, ela ainda pediu o perdão dele. Logo em seguida, a ex-deputada deixou o recinto acompanhada de um dos integrantes da própria defesa.

“Uma pessoa, na situação que ela está, fica completamente desequilibrada. Então, pode ter sido uma frase de desabafo, pode ter sido apenas pelo fato de eu estar nesse momento na frente dela, testemunhando sobre o seu procedimento social, já tendo estado com ela no auge. Eu conheci o lado bom, o lado hollywoodiano. De repente, eu estou ali sentado, dando meu depoimento. Não é em defesa, não é contra, é dos fatos que eu vivenciei. É realmente um choque. Quem viu Flor no filme, no palco, cantando músicas gospel e hoje vê essa mulher arrasada, é chocante”, avaliou o desembargador.

Todavia, ainda na conversa com a imprensa, Siro Darlan ressaltou que quem tem de dizer se Flordelis errou ou não é a Justiça. “Não discuto e nem coloco em debate o fato que está sendo julgado aqui, até porque eu não conheço. Não sei de nada. Agora, o exemplo dela deveria estar sendo cumprido, respeitado, multiplicado. Primeiro pelo poder público, que é o principal responsável pela violência contra criança. O governo que não investe em educação, que não tem creche e nem escola em horário integral, é o principal responsável. Então, quando você vê uma mulher ter a sensibilidade que a Flor teve, é pra todos nós refletirmos”, declarou.

Flordelis só retornou ao plenário quase uma hora depois do rompante, quando o legista Sami Abder, sétima e última testemunha do dia, prestava depoimento. Com a sessão já encerrada, o advogado Rodrigo Faucz, um dos representantes da defesa da ex-parlamentar, falou com a imprensa sobre o episódio e justificou o comportamento da cliente.

“Ela se emocionou bastante porque tudo que a imprensa trouxe até aqui, desde que o crime aconteceu, é a desconstrução da história. Foi feito isso como se as adoções não tivessem acontecido, como se ela não tivesse o instituto, como se ela não tivesse trabalhado, acolhido as crianças. A manifestação do desembargador foi um desagravo para ela, foi a comprovação de que tudo isso foi real sim, isso tudo aconteceu. Ela ficou muito emocionada por esse desagravo que comprovou que essa situação, a história dela, não pode ser apagada, ressignificada por conta dos detratores, por conta das pessoas que tem interesse em uma acusação excessiva que não tem o menor respaldo na realidade e nas provas”, disse Faucz.

O quarto dia do julgamento de Flordelis chegou ao fim pouco depois das 20h. A audiência será retomada na manhã desta sexta-feira (11), a partir das 09h, quando se dará continuidade nas oitivas das testemunhas de defesa.