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‘JP Move Repertório’ realiza circulação de espetáculos de dança na Tijuca
Comemorando 24 anos de existência e 17 prêmios, a companhia, da zona oeste carioca, leva três montagens de seu repertório a diversos espaços da cidadeEntre agosto e outubro deste ano, a companhia de dança JP Move realiza uma circulação dos espetáculos “Quora”, “Que Se Funk” e a performance “Desencaixe”, três dentre os muitos espetáculos de seu repertório. Contemplada pelo edital FOCA, a cia realizará o projeto “JP Move Repertório”, totalizando 27 apresentações pelo Rio de Janeiro – a maioria delas gratuitamente. A estreia acontece nesta sexta (20) e sábado (21), onde a companhia se apresenta às 19h no Teatro Angel Vianna, no Centro Coreográfico do RJ, na Tijuca, Zona Norte do Rio.
Em paralelo às apresentações, consta na programação lives com artistas oriundos de favelas da zona oeste para abordar o movimento da dança, em si, e o mercado de trabalho nessas regiões, além de cursos de danças urbanas oferecidos gratuitamente a alunos do 6º ao 9º ano de algumas escolas da rede pública de ensino.
Comemorando em paralelo os 24 anos de um trabalho artístico e social potente, que já abarcou centenas de jovens de bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro, com a circulação dos trabalhos a companhia reforça seu viés social de facilitar às populações menos favorecidas o acesso à arte e ao entretenimento de qualidade.
Em “Quora” (2019 / 2020) é realizada uma investigação cênica que busca provocar a reflexão no espectador sobre o desmazelo ao estereotipar o outro, abordando os impactos culturais deste processo a partir das relações interpessoais e com o próprio individuo nos espaços urbanos. “Que se Funk” (2013 / 2017) perpassa o movimento do ritmo e suas relações com a sociedade, bem como as conexões estabelecidas entre os indivíduos e os espaços da cidade. A ideia para “Desencaixe” (2017 / 2019) partiu de um comentário de Paulo Madureira no resumo do livro “Criatividade e Processos de Criação”, de Fayga Ostrower, de que o indivíduo desenvolve sua sensibilidade de acordo com o contexto social em que vive.
“Nossos espetáculos são, sobretudo, criados através das experiências pessoais. Normalmente trago temas atuais e começamos a ler livros, textos, artigos sobre o assunto. Também sugiro séries e filmes. Após, começamos a relacionar esses assuntos com nosso dia a dia, provocando os bailarinos a traduzirem em seus corpos uma espécie de relatos sobre esses assuntos. E quando desenvolvemos uma linguagem corporal que traduza bem o assunto, mergulhamos profundamente em laboratórios de criações, experimentando músicas e dramaturgias que nos levem a um roteiro coerente, poético e afetivo”, sintetiza Michel Cordeiro, diretor artístico da companhia.
Mantendo uma linha de repertório cujo objetivo é evidenciar a miscelânea cultural que é o Rio de Janeiro através de recortes artísticos inspirados pelos bailes funk, charme e toda bossa musical carioca, o trabalho da companhia é sempre influenciado pelo contexto suburbano. Assim, as linhas de pesquisa que norteiam os espetáculos são baseadas nas tendências de moda, dialetos, musicalidade, dança e comportamento, contribuindo diretamente como uma vitrine artística para incentivar o público a consumir esses produtos locais.
Porém, como de costume nos projetos artísticos, os desafios são muitos. “Hoje o principal é conseguir manter um patrocínio em longo prazo, pois todos esses jovens têm compromisso financeiro dentro de casa. Quando seus salários não chegam em dia, acabam largando a dança para trabalhar em fast foods, lojas de shopping, serviços gerais em empresas, entre outros. E, dependendo da idade, ainda existe o perigo de serem atraídos por propostas de dinheiro fácil, como o tráfico e a prostituição. Hoje, trabalhamos duro dia a dia para manter contratos cada vez mais longos, e também conversamos com outras empresas na área de educação para conseguirmos outras possibilidades de empregos, como professores nessas instituições”, reforça Michel.
Através da companhia de dança, grande parte dos jovens atendidos passaram a ver a educação formal como uma necessidade e saída contra a extrema pobreza em suas vidas. “Todos que passam pela companhia concluem o Ensino Médio, e muitos desses estão chegando à universidade pública por nossa orientação. Hoje somos 12 integrantes, dentre os quais oito são universitários e um está no Técnico em Dança na FAETEC. Transformamos vidas, sim, e principalmente no âmbito profissional. Inserimos esses jovens no mercado de trabalho”, destaca Michel.
Por fim, também faz parte dos ideais da JP Move aflorar o senso crítico e despertar um olhar mais sensível a respeito das manifestações das favelas e do subúrbio como possibilidades de arte e profissão. “Além de festejar nossa arte e cultura, dentre outros assuntos que precisam ser debatidos também fazemos apontamentos de combate à preconceitos como o racismo, através da valorização do movimento black; a homofobia, quando os bailes quebram o pensamento sobre heteronormatividade; e à estética, invalidando os conceitos europeus de beleza. Assim, oferecemos voz e representatividade a tantos jovens dessas regiões economicamente comprometida”, ressalta o diretor artístico.
O que não faltam, aliás, são bons exemplos de crescimento e aprendizado de tantos jovens que tiveram suas vidas transformadas. Moradora da comunidade do Batan, em Realengo, Bruna Bastos começou sua ‘evolução na dança’, como ela mesma diz, aos 12 anos. “A partir disso fui chamada pra fazer parte da companhia profissional e ingressei no Bacharelado de Dança da UFRJ, que foi uma escolha extremamente importante que me ajudou a progredir na minha busca”, relembra Bruna, que considera a dança terapêutica.
Matheus Vieira é outro integrante que teve sua vida transformada pela companhia, onde entrou aos 18 anos. “Mudou absolutamente tudo, me fez amadurecer e ver mais cores na vida! Fazer dança na companhia me doutrinou e me fez perceber que era aquilo que eu queria pra mim: viver da dança, transmitir a arte e tocar as pessoas. Isso me faz ter mais esperança e fé em um mundo melhor”, finaliza o morador de Senador Camará.
SERVIÇO:
“JP MOVE REPERTÓRIO – QUORA / QUE SE FUNK”
Datas: 20 e 21 de agosto – sábado e domingo
20 de agosto: “Quora”
21 de agosto: “Que se Funk”
Horário: 19h
Local: Teatro Municipal Angel Vianna / Centro Coreográfico da Cidade do RJ
Endereço: Rua José Higino, 115 – Tijuca
Ingressos: R$ 10 (valor correspondente à meia-entrada, que estará válido para todos)
Link para compras: https://www.sympla.com.br/jp-move-repertorios–quora–que-se-funk__1663935
Classificação Indicativa: Livre
Duração: 60 minutos